O músico Dado Villa-Lobos, guitarrista do Legião Urbana, mostrou-se indignado com a apreensão de fitas originais do Legião Urbana, feita pela Polícia Civil carioca na última quarta-feira (9). Armazenadas em um depósito utilizado pela gravadora Universal Music, localizado em Cordovil, na zona norte do Rio de Janeiro, as mais de 90 fitas incluem, de acordo com as autoridades, materiais inéditos de Renato Russo.
A apreensão foi resultado da operação batizada de Tempo Perdido, que visava recuperar o material e entregá-lo ao herdeiro de Renato Russo, o filho Giuliano Manfredini. Mas, segundo Dado Villa-Lobos, as fitas são legalmente propriedade da Universal e integram o legado do Legião Urbana, não apenas de Renato.
— É claro que eu tenho a anuência da utilização daquilo, não pode fazer qualquer coisa, mas eles são donos daquele fonograma e eles têm que preservar isso — protestou o guitarrista lembrando que, por acordo de cessão de direitos fonográficos, o material é de posse da gravadora Universal Music.
Preservação das fitas
Ao jornal Extra, a Universal Music Brasil posicionou-se sobre o caso, afirmando ter sido "surpreendida com este mandado de busca e apreensão em seu arquivo de tapes" e que "está providenciando acesso ao IP para ter conhecimento do que se trata para tomar as medidas legais cabíveis." Dado, por sua vez, relatou ter entrado em contato com a presidência da gravadora para relatar a insatisfação com a ação policial.
— Não consigo entender como um delegado, a polícia, se prestam a isso. Estão quebrando um contrato mundial. Alguma coisa tem que ser feita. Isso não é um arquivo qualquer, é o arquivo da Legião Urbana, que eu acredito ter um valor muito grande para a cultura musical do Brasil, para os brasileiros que cresceram ouvindo isso.
O guitarrista disse temer pela conservação das fitas, boa parte com mais de 30 anos:
— A Iron Mountain tinha as condições climáticas de desumidificação para preservar as fitas magnéticas. Não consigo entender como é que a minha obra é tirada dali e vai parar nas mãos da polícia. Eu estou dando como perdido esse material, ele é parte da nossa vida e agora vai apodrecer.
Dado: não são músicas inéditas
De acordo com Dado, o conteúdo do material apreendido não consiste em canções inéditas de Renato Russo, conforme divulgado pela Polícia. Segundo o guitarrista, as fitas incluem registros históricos de sobras de gravações, ensaios e material inutilizado. Ele garantiu que nada está sendo escondido do herdeiro de Renato Russo:
— Ninguém está querendo esconder nada de ninguém. Já acionei meus advogados deixando claro que eu não vou autorizar (o lançamento de) absolutamente nada do que vai sair dali se a companhia não tiver de volta esse material, que é da Legião Urbana e da Universal.
Dado Villa-Lobos disse ainda que, para comemorar o aniversário de 30 anos do álbum Dois (1986), ele o baterista Marcelo Bonfá tentaram tornar públicas sobras de estúdio das gravações do disco — algumas delas contidas no material apreendido. Contudo, não houve autorização de Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo, para o lançamento.
— Tem a gente tocando Juízo Final, do Nelson Cavaquinho, O grande inverno da Rússia, uma instrumental que a gente tinha gravado na época, uma versão de Fábrica em inglês. E o menino (Giuliano) não autorizou, foi difícil — reclamou, destacando o conteúdo do material.
A resposta de Giuliano
Ao jornal Extra, a assessoria de imprensa de Giuliano Manfredini disse que ainda não teve "a oportunidade de analisar detidamente o que existe no material descoberto" e que "buscará o auxílio de profissionais especializados, técnicos e competentes, para manusear, higienizar e catalogar" as fitas.
Único herdeiro de Renato Russo, Giuliano expressou descontentamento com as declarações de Dado Villa-Lobos de que “o material apreendido pertence à Universal Music”.
— Não estamos discutindo a quem pertence, trata-se de um material de que eu desconhecia a existência, enquanto ex-integrantes da banda tinham total acesso a ele. Tenho o direito de saber o conteúdo integral, e se a Justiça entender que devemos reinserir o material subtraído, o faremos — disse, completando:
— Dado deixa claro saber onde estava o material subtraído, despreza um processo legal e a missão da polícia e, como uma Cassandra, antevê um futuro impossível para o material dando-o por “perdido” e decretando o seu “apodrecimento”.