Dançarino e coreógrafo do É O Tchan durante 12 anos, Edson Cardoso, o Jacaré, abriu o jogo e relembrou momentos difíceis que vivenciou durante sua passagem pelo grupo — entre eles, o racismo sofrido. Em entrevista ao também dançarino Yves Lorrhan, da página Men do Not Dance, Jacaré relatou que costumava chorar de frustração, no camarim, por perceber que os negros da banda não recebiam a mesma atenção da mídia. Segundo ele, programas de televisão costumavam dar maior destaque a Carla Perez, que na época era a única integrante branca.
— Um dos primeiros momentos foi quando aparecemos em rede nacional, e na TV todo mundo foi só em cima da Carla Perez. Não aparecia a gente, pois só queriam mostrar a Carla. Ela, claro, não tem culpa de nada. É culpa do sistema, da sociedade, que queria mostrar sempre a mulher. Éramos quatro negros, eu, Beto (Jamaica) e Compadre Washington, e chamavam sempre a mulher loura, e não a Débora (Brasil, a primeira "morena do Tchan"). E todo o grupo ficava triste, muito triste. Poxa, a gente batalhou tanto, ensaiava, criava, e os caras fazem isso, jogavam só para uma pessoa. Teve programas que não queria fazer. Chegava no camarim e chorava muito — desabafou Jacaré, durante live realizada no último sábado (21).
O ex-dançarino também falou sobre o preconceito que sofreu em função de especulações relacionadas a sua orientação sexual.
— Quando fiquei famoso, teve muito o fato de acharem que era gay por estar rebolando. Fere pelo fato de as pessoas acharem que só o homem gay pode rebolar e remexer — comentou o artista, citando, ainda, o incômodo com a sexualização de seu corpo:
— Velho, só queria dançar. Não quero que as pessoas olhem para o meu órgão genital, para a minha bunda, minha barriga. Quero que vejam o movimento inteiro, a coreografia que eu passei horas tentando criar.
Nova vida
Casado com Gabriela Mesquita, com quem tem um casal de filhos, Jacaré vive desde 2016 em Toronto, no Canadá. Assim que chegou ao país, o ex-É o Tchan começou a trabalhar como garoto-propaganda em uma agência de imigração, ajudando brasileiros que têm vontade de morar no exterior. Já a esposa formou-se no início deste ano no curso de Gestão de Financeira.
— Tivemos a oportunidade de vir para a "terra gelada". Sabíamos que lá íamos começar do zero, e estamos aqui, na luta — contou ele, dizendo-se "aposentado da dança":
— Não vivo mais essa vida artística, não danço mais, não atuo mais. A vida aqui em Toronto é um desafio. A língua, por exemplo. O inglês é uma barra pra mim.