As buscas da Operação Será, que investiga a existência de músicas inéditas de Renato Russo, pegaram os produtores do cantor de surpresa. Os primeiros relatórios da polícia indicam que um documento encontrado cita pelo menos 30 canções nunca lançadas oficialmente.
Um dos alvos da investigação é Marcelo Froes, produtor de dois álbuns póstumos de Renato, amigo do artista e ex-representante jurídico da família dele. Em entrevista ao jornal O Globo, ele alegou que caso é uma "absurda falta de comunicação" com Giuliano Manfredini, filho de Renato, que fez a denúncia. Eles não se falam desde 2010.
— Fui surpreendido por um delegado querendo saber se eu tinha coisas da Legião Urbana, que começou a revirar a casa. Ele ensacou meus HDs e o meu computador, pegou o meu celular e levou tudo. Estão me prejudicando por algo que não faz o menor sentido — disse Froes, que acredita que está sendo investigado por ter conversando com um fã que já foi alvo de ação de Manfredini.
Froes também afirmou ter entregue à família do cantor, em 2002, um relatório com o levantamento de materiais musicais achados em uma gravadora e em acervos pessoais. O documento, no entanto, não faz menção a canções de Renato ou da Legião Urbana ainda desconhecidas pelo público.
— É fundamental que as pessoas entendam a diferença entre música inédita, aquela totalmente nova, que ninguém nunca ouviu, e gravação inédita, que é a música já conhecida, gravada de uma forma diferente — explicou em entrevista ao portal G1.
Segundo Froes, gravações de músicas já conhecidas existem e são de "altíssimo valor histórico". O material, no entanto, não estaria com ele.
Em publicação no Facebook, o produtor de álbuns solo de Renato, Carlos Trilha, também negou a existência de músicas inéditas. "Existem letras não usadas por Renato que estariam sendo musicadas por terceiros, escolhidas pelo jornalista Marcelo Froes antes da administração do espólio ser transferida para o herdeiro dos direitos", escreveu na postagem.
Ele também afirmou que foi o único produtor de Renato Russo e que Froes nunca trabalhou com o cantor. Além disso, reforçou que "tais 'versões inéditas' de músicas que já existem é quase certo que sejam remixagens utilizando as vozes guia das faixas que possuíam este registro. (Renato odiaria isso)".
Renato Russo morreu em outubro de 1996, aos 36 anos. Ele deixou algumas músicas gravadas, que foram aproveitadas pela gravadora para lançar o álbum póstumo, O Último Solo, em 1997. Em 2000, foi lançada uma coletânea com sua obra solo e mais duas músicas inéditas: as regravações de A Carta, de Erasmo Carlos, e A Cruz e a Espada, de Paulo Ricardo.
Operação Será
Batizada em referência a um dos grandes sucessos cantados por Renato Russo, a operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro começou há cerca de um ano, depois de uma denúncia feita pelo filho de Renato, Giuliano Manfredini. Detentor dos direitos autorais do artista, ele encontrou encontrou na internet um perfil oferecendo as supostas canções inéditas.
A Polícia Civil localizou quem estava por trás do perfil. Segundo as investigações, essa pessoa havia entrado em contato com o produtor musical Marcelo Froes.
Na segunda-feira (26), foram cumpridos mandados de busca e apreensão. Entre os materiais apreendidos estão o documento que comprovaria a existência das canções e equipamentos de Froes. Tudo passa por perícia nos próximos dias. O inquérito deve ser concluído em até 20 dias.