Nem o coronavírus para o pop sul-coreano. Nos últimos meses, os grupos de k-pop vem quebrando recordes, angariando prêmios e dando o que falar nas redes sociais. Enquanto isso, seu exército de fãs — um dos fandoms literalmente se auto-intitula Army — não teme entrar em discussões sérias, arrecadando fundos para a campanha Black Lives Matter e sabotando um comício de Donald Trump.
Em outubro, o fenômeno deve chegar até ao streaming com a estreia de um documentário original da Netflix. Light Up The Sky vai retratar o sucesso do Blackpink, quarteto feminino que é um dos grandes nomes da invasão sul-coreana. A produção deve mostrar momentos inéditos de bastidores de gravações e apresentações em shows, assim como imagens das rotinas pessoais das integrantes Jennie, Jisoo, Lisa e Rosé.
Por aqui, até o escritor Paulo Coelho se rendeu ao fenômeno, afirmando que o BTS, um dos expoentes mais conhecidos do k-pop, é a "banda mais importante do mundo". Em agosto deste ano, ele publicou no Twitter: "A todos que estão sempre criticando BTS, a banda mais importante do mundo: por favor, assistam a alguns vídeos: tenho certeza de que vão mudar de ideia".
A seguir, GZH mostra porque pode ser sábio seguir o conselho do mago de plantão.
No topo
Os fãs mais ardorosos já acompanham o k-pop há tempos, mas, nos últimos meses, alguns grupos do movimento parecem estar chegando a um novo nível.
Na última semana, por exemplo, o BTS se tornou a primeira banda de k-pop a conquistar o primeiro lugar na parada musical Billboard Hot 100, que elenca as músicas mais ouvidas dos Estados Unidos. Foi com o single Dynamite, que teve 33,9 milhões de streams e 300 mil cópias vendidas na semana de estreia.
Os sul-coreanos destronaram WAP, sucesso de Cardi B e Megan Thee Stallion, que estava na liderança da Hot 100 há duas semanas. A melhor posição do BTS, até então, havia sido o quarto lugar com On, em março.
Recordes
Dynamite é o primeiro single do BTS inteiramente em inglês, e a mudança de idioma não parece ter sido problema. Lançado em 21 de agosto, o clipe estreou batendo recordes no YouTube: foi o vídeo mais assistido nas primeiras 24 horas, com 101,1 milhões de visualizações.
O vídeo também foi a estreia mais assistida da história do YouTube, com mais de 3 milhões de espectadores sintonizados simultaneamente no momento em que entrou ao vivo, além de ter liderado o ranking do site em todos os países apenas 12 horas após seu lançamento.
Curiosamente, a boy band sul-coreana acabou destronando justamente o Blackpink com o clipe de How You Like That. Nas cinco maiores estreias no YouTube apenas uma não está nas mãos da Coreia do Sul: ME!, de Taylor Swift.
Confira a lista:
- BTS – Dynamite (101,1 milhões)
- Blackpink – How You Like That (86,3 milhões)
- BTS – Boy With Luv (feat. Halsey) (74,6 milhões)
- Taylor Swift – ME! (65,2 milhões)
- Blackpink – Kill This Love (56,7 milhões)
Engajamento
Para além da música, o k-pop vem impactando até a política. Em junho, os fãs do gênero se uniram a usuários do aplicativo Tik Tok para boicotar um comício do presidente americano Donald Trump.
Na ocasião, o público foi incentivado a se registrar no site do evento, com antecedência, para conseguir entrada grátis no comício. De acordo com o jornal The New York Times, fãs dos grupos sul-coreanos se organizaram para reservar milhares de entradas, sem a intenção de ir até a arena. O resultado foi visto nas imagens do dia, com o presidente discursando para vários lugares vazios. Da expectativa de até 1 milhão de espectadores, a audiência foi de 6,2 mil pessoas, segundo a Forbes.
Esse não foi o único ato político dos fandoms. Em meio aos protestos antirracistas nos Estados Unidos, após o assassinato de George Floyd, o BTS fez uma doação de US$ 1 milhão ao movimento Black Lives Matter. "Somos contra a discriminação racial. Nós condenamos a violência. Você, eu e todos nós temos o direito de sermos respeitados. Estaremos juntos", compartilhou o grupo em seu perfil no Twitter.
Nos dias seguintes, os fãs da banda se uniram para dobrar o valor da doação e contribuíram com US$ 1,2 milhão (cerca de R$ 5,8 milhões) ao BLM. O movimento foi possível a partir da hashtag, #MatchAMillion ("Alcançar 1 Milhão", em português), que rapidamente se espalhou por todo o mundo.
Ainda em relação aos protestos contra o racismo nos EUA, os fãs de k-pop entraram em ação depois de a polícia de Dallas pedir que a população compartilhasse gravações de "atividades ilegais de manifestantes", para entrar com ações contra os manifestantes. Os ouvintes de grupos sul-coreanos conseguiram travar a plataforma com o envio de milhares de vídeos de bandas de k-pop.