O fim da tarde no alto de um rooftop (terraço) em Williamsburg, distrito do Brooklyn, em Nova York (EUA), já seria bonito de se ver. Esse cenário perfeito para um por do sol tem ganhado a trilha do projeto Pandemusic NYC, criado pelo porto-alegrense Josué Cáceres, de 36 anos.
No dia 11 de julho, o músico e produtor gaúcho realizou a primeira transmissão ao vivo no terraço de sua casa, com duas horas de duração, no qual recebeu um grupo de artistas negros. Essa é a sua proposta: shows para o público curtir música de qualidade, refletir sobre a representatividade, tema que vem pautando o debate na sociedade americana, e, sobretudo, ajudar financeiramente os músicos convidados.
Tudo começou quando Josué percebeu que muitos de seus contatos tiveram trabalhos interrompidos com a pandemia do coronavírus. Começou a procurar patrocinadores para realizar as lives. Todos os participantes são remunerados com as doações - a equipe técnica, formada por ele e mais cinco pessoas, e os músicos dividem o dinheiro obtido. Em média, cada apresentação custa US$ 3 mil (cerca de R$ 16 mil).
— A missão é basicamente criar uma plataforma onde eles possam mostrar sua arte e levar entretenimento de qualidade para todos – reforça Josué, que já conseguiu auxiliar cerca de 20 músicos nas três lives que já promoveu.
Nesta sexta-feira (28), o Pandemusic NYC ganha sua quarta transmissão, a partir das 20h (horário de Brasília), via canal do projeto no YouTube. Desta vez, os recursos serão reforçados com o leilão de uma obra de arte doada pelo muralista brasileiro Eduardo Kobra. Quem contribuir participa do sorteio da peça.
Para Josué, o mais gratificante tem sido ver pessoas que admira, como artistas de rua , encontrando um lugar para tocar. Muitos deles não tinham nem material promocional básico e, por isso, o gaúcho tem doado vídeos e fotografias das lives para que eles possam usar como suporte de divulgação:
- O músico ganha mal, está entre as profissões que menos ganha. Sempre digo que tem a classe alta e a baixa da música, não existe alguém no meio. É uma satisfação poder ajudar todos eles, minimamente.
Racismo
Com a campanha Black Lives Matter, as lives ganharam uma importância ainda maior. Josué conta que vê manifestações de racismo diariamente em Nova York, mesmo sendo essa uma cidade cosmopolita e multicultural.
— As pessoas estão mais conscientes e em alerta sobre isso, o que é bem importante. Infelizmente, o racismo é inerente na sociedade, então fiz questão de os primeiros artistas (do projeto) serem todos negros. Precisamos honrar essa galera – destaca o músico.
Um dos artistas que participaram da terceira live foi o brasileiro Jair Oliveira, o Jairzinho, convidado após o contato gerado por um amigo em comum. Assim como o cantor, Josué acredita que o Brasil ainda precisa evoluir muito na discussão sobre racismo:
— Infelizmente, dói dizer, todos somos racistas. Precisamos de muita educação, diálogo e respeito. Isso tudo seria um começo para que as pessoas se conscientizassem e se respeitassem mais.