Quem não acredita em misticismo, pode ao menos repensar seu modo de modo de vida com a história da gaúcha Carolina Zingler. Nascida em Santa Cruz do Sul, ela está compartilhando em seu canal no YouTube as aventuras vividas em uma viagem pela Europa no ano passado, quando apresentou suas músicas nas calçadas de oito cidades, como Lisboa, Amsterdam e Praga. O projeto Take My Soul to Fly tem oito episódios e tem ganhado novos clipes às sextas-feiras.
Autodeclarada uma artista de rua, Carolina estudou Produção Fonográfica no Rio de Janeiro e, depois, Engenharia de Áudio em São Paulo. A partir de 2011, começou a tocar em calçadas, além de integrar uma banda. Em 2015, passou a ganhar destaque em São Paulo com o projeto Esquina do Jazz, em que fazia performances na Avenida Paulista. Chamou a atenção até de Jô Soares, que a convidou para uma entrevista em seu programa.
Após lançar três discos com o grupo Nuvens, Carolina deu asas ao seu destino em 2019. A fim de divulgar seu trabalho no Exterior, iniciou uma breve turnê em Lisboa.
— Eu não tinha pretensão nenhuma. Era vivenciar tudo aquilo, sentir o que era tocar em Berlim, por exemplo. Vimos que tinha uma história rolando, que cada lugar imprimia algo na tela e foi assim que pelo olhar do diretor Léo Stein nasceu tudo — conta Carolina, que hoje vive em Florianópolis (SC) e também comanda um estúdio de produção musical em São Paulo.
Foi graças a um reencontro inesperado na Avenida Paulista, com a Patrícia Tessmann (colega de Carolina no colégio em Santa Cruz) e seu marido Léo Stein, que começou uma parceira de registros audiovisuais. Logo depois surgiu a ideia de juntar as viagens deles - que iam para a Europa a trabalho - com a de Carolina para registrar as andanças e movimentos de música de rua.
A trupe escolheu o roteiro e assim foram registrar as apresentações em oito capitais. Logo em seguida, os bons ventos uniram o fotógrafo e videomaker Renê Baldissera na mesma "turnê", que coincidentemente já estava com bilhetes comprados para Lisboa no mesmo período. A equipe também contou com a presença da percussionista Bárbara Mucciollo, que trabalha com Carolina desde o lançamento do primeiro álbum.
Para custear a aventura ao longo de 40 dias, a cantora vendeu o carro e ajudou os amigos a pagarem os deslocamentos internos e hospedagens. O dinheiro ganho no chapéu complementou o orçamento.
— A forma como tudo aconteceu: o Renê apareceu, eu ter vendido o carro e a Patrícia, o Léo e a Bárbara Mucciollo terem toda essa disponibilidade de formarem essa equipe mágica foi um presente do universo. Todos faziam um pouco de cada coisa e juntos desenrolamos todas as atividades — lembra Carolina.
A ideia inicial do diretor Léo Stein era fazer alguns videoclipes, registrar o movimento de música de rua de Carolina em vlogs de viagem, para gerar conteúdo para o canal dela. Ao chegar no Brasil, entendeu que aquele registro todo poderia ser dividido em episódios e virar uma websérie. A produção da tour e registro fotográfico é assinada por Patrícia Tessmann.
Projetos
A viagem rendeu mais do que os registros e boas lembranças. Para setembro, a artista pretende divulgar um novo disco, Inspiration Sessions - volume I, com um experimento que surgiu no meio da turnê. Em Amsterdã, enquanto esperavam a chuva passar, Carolina e Renê sentiram uma atmosfera criativa e ela começou compor na hora juntamente com a captação do vídeo em uma cena poética.
— Eu apenas senti a vibração do lugar e acabou rolando isso em cada parada. Sempre fui emocional e organizada com as composições, mas deixei me levar pelo o que sentia, e as faixas tem um ar bem relaxante — conta Carolina.
Os trechos acústicos estão dentro do webdocumentário, que é um compilado dos melhores momentos em capítulos de 20 minutos cada. A ideia é, nos próximos meses, também postar trechos de experiências específicas, como a vez em que uma performance em um mirante de Lisboa lhe rendeu a capa do disco inédito: a artista local Irene Girassol Basso registrou em uma pintura um dos momentos em que Carolina tocava e o resultado foi a capa do álbum.
Enquanto viaja mentalmente para a Europa, a cantora de rua segue em isolamento social. Após um momento em que sentia aversão às lives, Carolina ativou as redes sociais e começou a fazer transmissões em seu perfil no Instagram. São duas transmissões ao vivo por semana, que ela considera quase que uma nova versão de sua Esquina do Jazz.
— Me sinto lá no começo, quando sentia na esquina que as pessoas estavam criando aquela cultura. No fim, dá o mesmo friozinho na barriga de quando tocava na rua — finaliza Carolina.