Em um Dia das Mães completamente atípico, no qual boa parte dos almoços de domingo e abraços foram substituídos por videoconferências e mensagens no WhatsApp, a live de Roberto Carlos talvez tenha ajudado a aliviar, pelo menos por uma hora e quarenta minutos, a estranheza causada pela distância da quarentena em uma data comemorativa.
Direto do estúdio em sua casa, no Rio de Janeiro, o rei apareceu pontualmente às 15h com uma camisa clara e um colete branco e, sem perder tempo, começou a cantar Lady Laura, música que compôs para sua mãe em 1976 e se tornou um de seus maiores sucessos.
Queridinho das mães, o cantor já saiu ganhando com a presença da audiência cativa, que passou a transmissão inteira comentando declarações de amor e emojis de rosas —referência ao clássico gesto de seus shows ao vivo. Vez ou outra também apareceram mensagens de outros países.
Em troca, ganharam vários clássicos do rei e uma rosa vermelha virtual.
— Essa é a minha forma digital de mandar uma rosa para vocês. Não gosto dessa palavra, "digital" mas tem que ser — disse, antes de cantar Como É Grande o Meu Amor Por Você.
Um QR code apareceu na tela, e, escaneado, levou a uma flor em 3D rodando em cima de uma mensagem de "feliz Dia das Mães".
Apesar de uma falha técnica do áudio no YouTube — a voz do rei ficou abafada por cerca de quarenta minutos, problema que não se repetiu na transmissão na Globo e na Multishow — a live foi mais enérgica do que a anterior, no último dia 19, quando ele celebrou seu aniversário de 79 anos.
Na primeira, estava acompanhado apenas do maestro Eduardo Lage, parceiro musical de anos, e de Tutuca Borba. Já neste domingo (20), ganhou a companhia de mais três músicos, que tocaram mascarados e a uma distância de três metros do rei, envoltos por aquários (cabines) de acrílico. Com bateria, baixo e violão na jogada, a transmissão ficou com mais cara de show.
Alternando entre comentários sobre suas músicas, o cantor dedicou parte da live para dar pequenos recados e broncas sobre a pandemia.
— Esse negócio de cumprimentar com o pé ou o cotovelo não tá com nada, isso não resolve — disparou logo no começo. — Nós temos que ser radicais nessa questão do distanciamento social. Nesse tempo em que estamos vivendo qualquer gesto de carinho vale, pode ser à distância, pode ser de qualquer jeito, desde que seja de coração — completou.
A transmissão teve algumas interferências da atriz e cantora Jéssica Ellen, que, do lado de fora do estúdio, convidava a audiência a postar fotos com suas mães para arrecadar doações de comida da marca patrocinadora.
Depois de um intervalo, o cantor passou pelas emocionantes Detalhes — parceria com Erasmo Carlos e sua canção favorita — e Outra Vez, de Isolda Bourdot, que cantou sentado num banquinho. Emendou a animada Mulher Pequena, dedicada, naturalmente, às mulheres.
Emocionado, convidou Wanderléa, que apareceu para acompanhá-lo na parceria Ternura direto de sua casa. Perto do fim da música, uma gravação de um coro do público acompanhou a dupla.
Como não poderia ser diferente, Roberto também investiu em outros idiomas com Unforgettable, de Nat King Cole, e Senza Fine, que dedicou ao amigo Andrea Boccelli com um recado em italiano. Encerrou a live, que em seu pico era assistida por cerca de 152 mil pessoas, com a religiosa Luz Divina.
Acostumado a associar a imagem do rei a tempos natalinos — quando ele apresenta seu clássico especial de fim de ano —, parte do público retomou as brincadeiras sobre o "segundo Natal" do ano e a tentativa de o Brasil avançar no tempo para um dezembro, quem sabe, sem quarentena.