“Vai passar, tudo vai passar, logo a gente volta a se abraçar”. Com esses versos gravados em sua casa, o cantor pop Di Ferrero traduziu o misto de sentimentos na sua luta contra o coronavírus. Diagnosticado com a doença em 9 de março, o músico ficou 18 dias isolado de parentes, período que o inspirou a compor Vai Passar, canção que apresenta como exemplo de que o confinamento deve ser regra para quem pensa no futuro da sociedade brasileira.
— Eu escrevi e produzi a música nesses dias de quarentena, e era bem o que eu tava sentindo — detalha Di Ferrero, em entrevista ao GaúchaZH por telefone. — Foi produzida de forma caseira: gravei a voz no banheiro, o violão dentro do armário para pegar bem a sintonia (risos). O intuito é ajudar e acalmar as pessoas, pois é o que ela fez comigo.
No terceiro e no quarto dias de isolamento, o ex-vocalista da banda NX Zero conta que estava muito cansado, com falta de ar e precisou ficar na cama. Aos poucos, com medicação específica e seguindo as recomendações médicas, o quadro foi se revertendo.
— Primeiro, eu estava rouco, e quando consegui voltar a cantar, aos poucos, me deu a alegria que incentivou a fazer a música de forma natural. Minha inspiração foi pensar nas pessoas e me ver cantando, porque todo dia eu canto, pego o violão e toco — destaca o artista, que também lançou a faixa Me Deixa Cantar, com astral igualmente positivo, em parceria com o duo Selva, na semana passada.
No Rio Grande do Sul, a mensagem de que as pessoas precisam se isolar em suas residências ganhou força com o trabalho de 18 músicos locais. Em um grupo de WhatsApp organizado pela produtora Cida Pimentel, nomes como Marcelo Gross (ex-guitarrista da Cachorro Grande) e o cantor Bebeto Alves se uniram na música Brasil, Fica em Casa!, composta por Edu Meirelles. O resultado final rendeu um vídeo musical editado por Luciano Albo.
Meirelles conta que se preocupou em fazer uma música “bem brasileira”, tanto em harmonia como em melodia, para que o ouvinte realmente pensasse na nossa terra.
— O mais bonito foi ver todos os 18 músicos participando, empenhados, comprando a ideia mesmo. Muita gente não tinha o equipamento apropriado para gravar e fez direto no celular. Juntos em prol disso — vibra Meirelles.
Informação
Além da conscientização, o rapper MV Bill também busca debater a realidade brasileira diante da pandemia. Em Quarentena, lançada na última sexta-feira, o artista canta seu impacto diante da confirmação de uma pessoa infectada na comunidade do Rio de Janeiro onde nasceu e foi criado, Cidade de Deus. MV Bill alerta os políticos sobre os perigos do vírus em uma favela e também da importância do confinamento. “Chefe de Estado minimizou / Demorou / Perderam tempo com coisa que não interessa / Quem tem noção do vírus tá com medo”, diz um dos trechos de Quarentena.
— Espero que os políticos mundiais, nesse momento, ouçam as autoridades do assunto, que são os médicos, infectologistas. Eles que vão nos dizer de que forma a humanidade pode sobreviver — aponta MV Bill, que deve lançar a quarta temporada de Hip Hop Brazil, programa independente sobre o gênero musical, em maio no Music Box Brazil.
Quarentena repercutiu em mais de oito países, além do Brasil, somando mais de 290 mil visualizações no YouTube em quatro dias.
— Recebi mensagens de pessoas de vários lugares, que conseguiram ter um panorama do que está acontecendo aqui através da faixa. Talvez não mude o mundo, cabeças com pensamentos radicais, mas só de ajudar a fazer uma reflexão sobre o momento já está valendo — reforça o artista.
Este pensamento também é compartilhado por Di Ferrero. Ele acredita que esse momento de solidariedade – com pessoas ajudando seus vizinhos, por exemplo – vai transformar o país:
— Acho que vamos sair dessa mais fortes e com várias lições. Não seremos os mesmos também! O lado bom de ter acontecido é isso, todo mundo se ajudando, vamos lembrar disso — finaliza.
Veja as músicas de Di Ferrero, dos artistas gaúchos e de MV Bill
Do pop ao funk: outros exemplos pelo mundo
Entre anônimos e famosos, várias faixas foram lançadas nos últimos dias incentivando o isolamento social e contra o coronavírus. O uruguaio Jorge Drexler, que foi diagnosticado com a doença, usou o confinamento para gravar Codo con Codo (Lado a lado, em tradução livre). “A paranoia e o medo não serão o modo que sairemos dessa juntos, nos colocando lado a lado”, diz um trecho.
Já Bono, líder do U2, também lançou uma faixa nas redes sociais chamada Let Your Love Be Known, como forma de animar sobretudo a população italiana – um dos epicentros da pandemia. Ao redor do mundo, do México (com versões em reggaeton) até a própria China (com pop), outros artistas viralizaram diferentes canções originais como forma de incentivar a prevenção e animar seus fãs.
Um dos gêneros mais populares no Brasil, o funk também ganhou seu hino. O MC Tchelinho, da comunidade Cruzada São Sebastião, no Rio, criou o Corona Funk, em uma mensagem para os moradores da região. A ideia acabou repercutindo nas redes sociais.
— A inspiração foi mostrar o que passamos, com vários avisos para nos cuidar, e sabia que a comunidade receberia essa informação melhor através do funk, que é algo bem original nosso — explica o cantor ao GaúchaZH.