Entre os projetos musicais compostos somente por mulheres ou protagonizados por elas no Rio Grande do Sul, há grupos femininos atuando em diferentes segmentos: surf rock instrumental (As Aventuras), samba (50 Tons de Pretas, Samba Delas e Sambaiaiá), regional (Gurias Gaúchas e Banda), punk rock (3D) e multiartístico (As Tubas).
No entanto, mesmo com diferentes cenários de mulheres cada vez mais protagonistas, ainda há dificuldade para conseguir espaço.
— Não é fácil. Nunca foi fácil. Nós ainda achamos que vamos ter um caminho que não vai ser fácil — atesta Thayná Lima, mais conhecida como Nega Lima, que canta e toca cavaquinho no grupo feminino Samba Delas.
— A ideia da Samba Delas é mostrar que as mulheres podem fazer tanto samba quanto qualquer outra coisa — diz Nega Lima.
No entanto, o grupo ainda leva olhares desconfiados quando chega aos locais para se apresentar.
— “Ih, são só mulheres tocando e cantando pagode e samba? Será?”. Já estamos acostumadas. Quando a gente começa a tocar, todo mundo fica com uma cara e olho arregalado — conta a vocalista.
A cantora e instrumentista Graziela Pires, que forma o duo 50 Tons de Pretas com Dejeane Arruée, também percebe essa desconfiança em certos espaços. A dupla canta sambas e clássicos da MPB, além de composições autorais. Elas percebem que há lugares que não as recebem.
— Por sermos mulheres, por sermos mulheres negras, por tocarmos samba. Ainda há vários elementos impeditivos de chegar em alguns lugares — diz Graziela.
Formado por Ariane Motta (baixista e cantora) e Adriana de Los Santos (gaiteira), o Gurias Gaúchas e Banda foi criado em 2013 e toca música regional. A dupla ainda é julgada pelas roupas, por não se vestirem de prenda, mas sim de botas e bombachas. Antes, as duas integraram o Só Gurias, que era inteiramente formado por mulheres – hoje, usam músicos na banda de apoio. Elas descrevem que o preconceito que sofriam era ainda maior no projeto anterior.
— Chegávamos nos lugares e perguntavam: “Cadê o playback? Não acredito que vocês vão tocar”. Já usávamos botas e bombacha, o que não era costumeiro entre mulheres num grupo. Falavam que era um absurdo. Hoje em dia, essa vestimenta é mais normal, mas ainda há um preconceito velado, de nos excluir ou deixar de canto — relata Ariane. — O público, muitas vezes, é conservador. Nos julgam antes de a gente tocar.
Portas
Por outro lado, a motivação para as Gurias Gaúchas enfrentarem esse ambiente é quebrar o tabu e transpor barreiras. Além, é claro, do amor pela música.
— É uma luta. Por mais que tenha preconceito, isso nos fortalece cada vez mais para batalharmos pelo nosso ideal. Mesmo que existam barreiras, essa luta pela mulher nos motiva — afirma Adriana.
— Não precisamos bater de frente com eles, agredi-los ou sermos grosseiras. Mas vamos lutar com a nossa música, com a nossa arte — complementa Ariane.
Com o Samba Delas, Nega Lima aposta numa postura forte:
— Vamos dar a cara a tapa. Temos que mostrar por que viemos e que a gente pode.
Já Graziela, do 50 Tons de Pretas, reflete:
— Costumamos dizer que, quando as portas não se abrem, nós as chutamos (risos). Então, seguimos fazendo o nosso trabalho, batendo na porta até conseguir entrar.
Adriana destaca:
— Recebemos muitos relatos de gurias que não usavam bombacha e agora usma, não tocava gaita e agora toca, pois se inspiraram na gente. Isso para nós já é um caminho que foi aberto.