Luiz Osvaldo Leite, 87 anos, conhecido no meio cultural como Professor Leite, é um dos poucos que não apenas conhecem a história da Ospa como a viveram desde o início, há sete décadas.
No dia 23 de março de 1950, data do primeiro concerto, ele estava no Theatro São Pedro, aos 17 anos. Na regência, Pablo Komlós, húngaro antes radicado em Montevidéu que fundou a orquestra e a dirigiu até 1978. Foi o primeiro e seu mais importante maestro, com o qual a Ospa alcançou projeção nacional, notadamente com a grande turnê nacional de 1973 que virou um marco em sua história. Komlós havia se aproximado da capital gaúcha na década de 1940, quando recebeu convites do Orfeão Rio-Grandense, entidade que promoveu históricas temporadas líricas.
— O contexto de fundação da Ospa era de uma vida cultura riquíssima em Porto Alegre. O período entre os anos 1940 e 1951 foi maravilhoso. A cidade recebeu os maiores pianistas do mundo: Claudio Arrau, Wilhelm Kempff, Walter Gieseking, Friedrich Gulda. Também vieram Beniamino Gigli, que era o Pavarotti da época; a soprano Erna Sack e Yehudi Menuhin, violinista que se tornou um grande maestro. Os grandes polos operísticos na América Latina eram Rio de Janeiro e São Paulo, de um lado, e Buenos Aires, de outro. Porto Alegre estava no meio — afirma Leite.
Entre os músicos que atuaram sob a batuta de Komlós, encontrava-se o hoje escritor e professor Luiz Antonio de Assis Brasil, que foi violoncelista da Ospa entre 1965 e 1980. Décadas depois, envolveu-se com a orquestra como secretário estadual da Cultura, entre 2011 e 2015. Na literatura, criou personagens violoncelistas na novela O Homem Amoroso (1986) e no romance O Inverno e Depois (2016) e também tratou de música em Concerto Campestre (1997) e A Música Perdida (2006).
— O maestro Pablo Komlós era a alma, corpo e sangue da orquestra – lembra Assis Brasil. – Tinha um estilo forte e por vezes dramático, mas por dentro era um homem capaz das mais épicas atitudes em defesa de seus músicos. Gostava particularmente de reger ópera, embora as imensas dificuldades em montá-las num meio de escassos recursos. Os músicos tinham por ele um carinhoso respeito, mesmo que, eventualmente, tivesse alguns momentos de cólera. Mas isso logo passava.
Outros grandes maestros do passado da Ospa, segundo Luiz Osvaldo Leite, foram Eleazar de Carvalho (diretor artístico entre 1981 e 1987 e depois entre 1991 e 1992), David Machado (entre 1992 e 1993) e Issac Karabtchevsky (de 2003 a 2010):
— Os músicos dizem que Eleazar era extraordinário como regente, que conseguia uma tonalidade especial. David Machado realizou grandes concertos, como as sinfonias de Mahler, e tocou compositores mais recentes, como Stravinsky, que não eram tão do gosto do público. Karabtchevsky também foi importante, pois levou o nome da orquestra para outros lugares.
Com o passar das décadas, a Ospa teve a oportunidade de acompanhar grandes estrelas das músicas pop e erudita, como Rick Wakeman (em 1975), Ravi Shankar (1976), José Carreras em um concerto nas ruínas de São Miguel das Missões (1997), Montserrat Caballé e sua filha Montserrat Martí na praia do Laranjal, em Pelotas (1998), e, poucos dias depois, Luciano Pavarotti e Roberto Carlos juntos em um encontro no Estádio Beira-Rio para cerca de 50 mil pessoas.
Ex-diretor artístico da Ospa e atual diretor da Orquestra de Câmara da Ulbra, o maestro Tiago Flores ressalta que a Ospa é a maior orquestra do Estado, a única com quadro suficiente de músicos para executar qualquer obra do repertório:
— Houve uma melhoria técnica muito grande desde a década de 1970, acompanhando o desenvolvimento das universidades no Brasil e da música orquestral. A cada concurso para a contratação de músicos, o nível melhorava ainda mais. Isso certamente continuará ocorrendo. Espero que, no futuro, a Ospa siga crescendo. Sei que turnês são caras, mas são importantes para mostrar o trabalho.
Parte 3: os maestros e solistas que fizeram história com a orquestra (você acabou de ler)