Elza Soares já foi chamada de rainha do samba e voz do milênio, mas há quem diga que é agora, beirando os 90 anos (a idade exata não é revelada), que vive seu auge. Antes sumida e sofrendo com problemas de saúde, nos últimos cinco anos, ela vê seu público rejuvenescer e reconhecê-la como um ícone do feminismo negro. No último Carnaval, a Mocidade Independente coroou esse momento com uma homenagem na Sapucaí: “Se acaso você chegar, com a mensagem do bem, o mundo vai despertar, deusa da Vila Vintém”, dizia o enredo. É com esse status de divindade que a cantora se apresenta no Auditório Araújo Vianna, às 21h deste domingo (8), Dia Internacional da Mulher.
— É reconhecimento, né? Isso aí não tem dinheiro que pague. Só que eu não me sinto uma deusa não, gente, faz mal — avisa Elza, em entrevista a GaúchaZH. — Todas as mulheres devem se enxergar como ícone — arremata.
A cantora lembra que os gaúchos “sabem receber muito bem”. No ano passado, foi ovacionada em Porto Alegre ao receber o título de doutora honoris causa pela UFRGS. Desta vez, ela traz o show de Planeta Fome, considerado pela crítica brasileira um dos melhores discos de 2019. É o terceiro trabalho dessa nova fase de Elza, que inclui Deus É Mulher (2018) e começou com A Mulher do Fim do Mundo (2015) — primeiro álbum de inéditas da cantora, com o qual venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum de MPB.
O som contemporâneo desses trabalhos levou uma gurizada a entoar, nos shows de Elza, palavras de ordem exaltando as mulheres e denunciando o racismo. Enquanto o público pula, Elza canta sentada, devido a problemas na coluna.
A animação no palco às vezes fica por conta da banda formada por Ricardo Muralha (synths e pads eletrônicos), Bruno Queiroz (programações e efeitos eletrônicos), Rafa Barreto (guitarras), Mestre DaLua (percussão), Netão e Pedro Loureiro (vocais de apoio).
O repertório é focado nos três discos, principalmente em Planeta Fome, no qual Elza seguiu costurando parcerias com novos nomes da música, do rapper Rafael Mike (Não Tá Mais de Graça) ao grupo BaianaSystem (Libertação). Variado, o álbum mostra que a rainha do samba também é roqueira, rapper, funkeira e muito mais. O título alude a um episódio de 1953: “De que planeta você veio, minha filha?”, perguntou o apresentador Ary Barroso em seu programa de calouros. “Do mesmo planeta que o senhor, do planeta fome”, respondeu a jovem. Até o figurino do show, feito com vários alfinetes, remete à roupa que Elza usava naquele dia.
Quase 70 anos depois, Elza afirma que ainda estamos no planeta fome e idealiza, ao longo do álbum, um Brasil com saúde, educação e igualdade social. Como mulher negra de origem pobre, ela personifica essas lutas e é festejada pelo estilo autêntico e o amor-próprio.
— Sempre ditei moda. Quando não era momento de mulher nenhuma com cabeça raspada, eu estava com a minha cabeça limpa, bonita, raspada e vi uma porção de gente me imitando. Acho que vocês devem fazer o que vocês gostam também. Me amem e se amem também —recomenda a cantora.
Elza Soares – “Planeta Fome”
- Auditório Araújo Vianna (Av. Osvaldo Aranha, 685).
- Domingo (8), às 21h.
- Abertura da casa: 19h.
- Classificação: 14 anos.
- Ingressos: R$ 200 (plateia alta lateral), R$ 220 (plateia alta central), R$ 260 (plateia baixa lateral), R$ 300 (plateia baixa central) e R$ 380 (plateia gold). Ponto de venda online: site sympla.com.br, sujeito a taxas. Pontos de vendas físicos: loja Verse Lindoia Shopping, sem taxas, loja Verse Andradas e lojas Planeta Surf do Shopping Iguatemi Porto Alegre, Praia de Belas Shopping, Bourbon Shopping Wallig, Bourbon Shopping Ipiranga e BarraShoppingSul, com taxas. Há opção de entrada solidária, mediante doação de 1 kg de alimento não perecível na entrada do evento. Sócio do Clube do Assinante e acompanhante têm 50% de desconto.