Qualquer um que tenha ligado o rádio nos anos 1980 e 1990 conhecia Roxette, dupla sueca formada pela cantora Marie Fredriksson e pelo guitarrista Per Gessle. Mas a notícia da morte de Marie, aos 61 anos, na última segunda-feira (9/12), impactou especialmente a porto-alegrense Daniela Etchart. Desde os 10 anos de idade, a tenente da Força Aérea Brasileira fez tudo para se aproximar da banda e, em 2010, chegou a cancelar o próprio casamento para viajar à Europa e acompanhar o grupo. A história foi parar na capa de jornais suecos. "Ela disse 'sim' para Gessle", diz uma manchete hoje enquadrada na parede da casa de Daniela (traduzida para a reportagem pela própria fã, que aprendeu a língua por causa dos ídolos).
— A mídia sueca me chamou de 'runaway bride' (noiva em fuga) e a esposa do Gessle me chamava de 'Miss Gessle Brasil' — lembra Daniela.
A militar garante que não teve prejuízo ao cancelar o casamento, que estava agendado, mas ainda não havia sido pago.
— Já tinha salão, bufê, estava tudo preparado. Mas, quando vi que ia ter show, falei 'não vai mais ter casamento'. Meu ex-marido também gostava deles, então para ele foi muito natural.
O show era mesmo especial: a banda Roxette estava parada desde 2002, quando a cantora foi diagnosticada com um câncer no cérebro. Depois de um reencontro em 2009, a dupla anunciou para 2010 a turnê que marcaria sua volta aos palcos. Daniela se juntou a outros quatro superfãs da banda e foi a todos os shows.
— Valeu muito a pena ter cancelado o casamento para ver os shows — garante.
No ano seguinte, 2011, Daniela conseguiu o que tanto sonhava: aproximou-se do grupo a ponto de acompanhar toda a turnê no Brasil. Trabalhando de modo voluntário, era a responsável por organizar os encontros com os fãs e, de quebra, passava um tempo com os ídolos e tinha acesso aos bastidores.
— Levei eles para a beira da praia em Porto de Galinhas (PE), comeram milho. Em Porto Alegre, levei para jantar no CTG 35. Mas fiz questão de ver o show do Pepsi on Stage na grade, como fã — lembra Daniela, que sugeriu que eles tocassem o Hino do Rio Grande do Sul, para delírio do público e surpresa do guitarrista.
Quando a turnê de retorno da banda foi transformada em livro, o autor Sven Lindström dedicou um capítulo inteiro ao amor de Daniela pelo Roxette, que pode ser medido em números: 38 shows vistos, três tatuagens, quatro viagens à Suécia e um acervo de mais de 5 mil itens do grupo. A memorabilia está guardada em um móvel planejado para isso na sala de estar. Tem LPs, CDs, DVDs, fitas K7, crachás de bastidores, pôsteres, recortes de jornais, placas com o nome da banda. Há também as peças que mostram a relação especial de Daniela com a banda, como um pesado álbum de fotos, baquetas e uma gaita de boca tocada por Gessle.
— Sou a maior colecionadora no Brasil — assegura, exibindo um dos tesouros: — Este é o mais raro, I Don't Want to Get Hurt, um single que só saiu no Brasil, autografado, e nem o Gessle tem.
30 anos dedicados ao Roxette
Faz 30 anos que Daniela acumula essa coleção. A paixão começou quando tinha apenas 10 anos. Quando a dupla fez seu primeiro show em Porto Alegre, em 1992, já era fã. No segundo, em 1995, organizou uma excursão de ônibus a Rio e São Paulo, onde conseguiu conhecer os ídolos rapidamente. Já adolescente, conseguiu um estágio no escritório da EMI em Porto Alegre e depois outro no Consulado da Suécia. Tudo com o objetivo de se aproximar da banda. Em 2002, era responsável pelo site brasileiro do grupo, recebendo materiais promocionais em primeira mão e sorteando para outros aficionados.
A recompensa veio em 1998 e 2011, dois anos em que Daniela acompanhou a dupla em suas turnês pelo Brasil, fazendo a mediação deles com outros fãs.
O último contato da tenente com o Roxette foi em 2014, durante uma viagem:
— Fui no camarim, levei presentes e conversei com o marido da Marie. Ele me contou que logo depois que ela desmaiou e foi diagnosticada, lá em 2002, os médicos falaram que ela tinha 85% de chance de morrer. Então ela ganhou 17 anos de sobrevida . Nos últimos anos, ela estava bem reclusa. Então a gente (os fãs) já esperava. Mas foi como perder um membro da família — diz a tenente, emocionada.
Quando Marie morreu, na semana passada, todos os amigos de Daniela ligaram para lhe dar as condolências.