Zeca Pagodinho tem vários motivos para estar triste: amigos que morreram recentemente, o grande parceiro Arlindo Cruz mal de saúde, o Rio de Janeiro e o Brasil em dificuldades.
Está lançando, porém, um álbum intitulado Mais Feliz, que chega nesta terça-feira (17) às lojas e às plataformas digitais. São 11 músicas totalmente inéditas e três gravadas pela primeira vez na sua voz. Ele diz que procura se sentir feliz.
— Estou com 60 anos. Diziam que eu não durava 30 — ri, numa alusão à intensa boêmia que praticou na juventude.
Comemora ter dois netos, frutos de Eduardo e Eliza, os mais velhos de seus quatro filhos. Está na expectativa de Louis lhe dar mais um neto.
— O moleque demora. Ainda vai casar para ter um filho. Por que não faz ao contrário? Quer ser diferente da família.
O cantor parecia realmente feliz durante a entrevista à Folha de S.Paulo, na tarde de segunda (16), no Bar do Zeca, que ele abriu há um ano na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro.
— Este aqui é o segundo Zeca. Depois das 18h, é outro. Aproveita! — alertou. O primeiro Zeca é o da manhã, que nem sempre se lembra do que o terceiro Zeca fez na véspera.
Músicas
Na introdução de Na Cara da Sociedade (Serginho Meriti e Claudemir), ele pede paz "no mundo, no Brasil e, principalmente, no Rio de Janeiro". Sua cidade é sua infelicidade.
Zeca encomendou a Serginho Meriti (autor de Deixa a Vida me Levar) um samba que expressasse suas preocupações. A letra diz: "É a bala perdida, é a guerra, o caos/ É a ignorância dos votos nos bons homens maus". Apesar deste verso, não quer mais falar de política. Mas acredita no futuro.
— Tem que melhorar, não tem como piorar.
Esse é o primeiro disco de Zeca sem Arlindo Cruz por perto. Em março de 2017, ele sofreu um AVC hemorrágico, do qual busca se recuperar. Zeca acompanha tudo, mas optou por não vê-lo.
— Prefiro guardar a lembrança que eu tenho. Acho que não vou me sentir bem, ele também não. Ele vai se emocionar... — explica.
Mas o CD é dedicado a Arlindo. No encarte, há uma dedicatória manuscrita. E no repertório há Nuvens Brancas de Paz, homenagem dos dois amigos e de Marcelinho Moreira à Portela. A faixa-título já tinha sido gravada por um dos autores, Toninho Geraes (o outro é Paulinho Rezende). A letra é uma declaração de paixão: "O nosso amor é Kama Sutra, é juventude."
A última música é Apelo, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, com apenas Yamandu Costa (violão de 7 cordas) e Hamilton de Holanda (bandolim) no acompanhamento. A canção, dentre inúmeras outras, era ouvida por Zeca nas casas de sua família, no Irajá e em Del Castilho, no subúrbio carioca.
— Era iê-iê-iê na sala e seresta no quintal. E sempre teve samba. A vida me botou nesse caminho (da música): "Vai por aqui" — explica.