Ativista político da “nova esquerda” norte-americana, cofundador do Partido Internacional da Juventude (Youth Internacional Party, conhecido pela sigla Yippies) e um dos líderes das manifestações contra a Guerra do Vietnã, Abbie Hoffman (1936-1989) considerava Woodstock “o maior evento cultural do século 20”. Não estava e nem está sozinho: a passagem dos 50 anos do festival (dias 15, 16 e 17 de agosto) vem recebendo grande destaque nos meios de comunicação de todo o mundo. Em 2009, na comemoração dos 40 anos, Michael Lang, idealizador e organizador do festival, lançou o livro The Road to Woodstock, que finalmente está sendo lançado no Brasil pela editora Belas Letras, de Caxias do Sul, com o mesmo título, A Estrada para Woodstock.
A narrativa de Lang, que contou com a ajuda da jornalista e escritora Holly George-Warren na busca de depoimentos e declarações de dezenas de personagens da história (como Abbie Hoffman), é uma minuciosa reconstituição da louca aventura de produzir um megafestival ao longo de um ano. Lang já havia coordenado o Miami Pop Festival em maio de 1968, atraindo 25 mil jovens – e antes já haviam ocorrido o Magic Mountain Festival, na Califórnia, e o Denver Pop Festival. A agitação pacifista nas universidades, a emergência da consciência negra e o crescente engajamento de parte da juventude à “new left”, aliados à popularização do rock e ao início do consumo social de drogas como a maconha e o LSD, produziam o caldo de cultura que explodiria em Woodstock.
Logística
Tudo isso é registrado pela memória de Lang e canalizado para seu propósito de reunir 200 mil pessoas em uma área rural do estado de Nova York. Para chegar ao objetivo, ele, seus sócios e uma equipe que ao longo do ano somaria centenas de pessoas, tiveram de ultrapassar toda sorte de empecilhos, desde a dificuldade em negociar com financiadores desconfiados com os “cabeludos”, até ser hostilizados por moradores e autoridades dos locais para a realização do festival. Eles foram corridos de dois locais depois de altos investimentos, acabando por encontrar no produtor rural Max Iasgur o parceiro que abriria espaço para o sonho. Mas até encontrar Yasgur, foi gasto muito tempo e eles tiveram pouco mais de um mês para organizar tudo no local definitivo.
A linha do tempo básica do livro é o intrincado processo logístico que enfim levou ao dia de abertura do festival. E, quando ele chegou, trouxe a questão maior, que não dependia de tempo, tinha que ser resolvida na hora: apareceram 500 mil jovens! Como alimentar, cuidar da saúde e controlar esse povo todo, que já havia rompido as cercas? “Era muito parecido com uma operação militar do ponto de vista da logística”, lembra Lang. Embora as atrações musicais mesclassem artistas já famosos, como Jimi Hendrix e The Who, e quase estreantes, como Joe Cocker e Santana, era óbvio que a multidão não estava lá só pela música. A música ficou como a trilha sonora da explosão hippie sintetizada na expressão Paz & Amor. A juventude norte-americana, e logo a ocidental, encontrava um ponto de síntese.
Sob condições climáticas e sanitárias adversas, 500 mil se reuniam com um sentimento de família, uma nova família. A Estrada para Woodstock é o melhor livro já escrito sobre essa geração. Superinformativo e ideológico, ultrapassa o tempo. A tensão e a emoção de Lang (tinha 24 anos) e seus amigos que “revelaram” o planeta Woodstock está em cada trecho narrativo e em cada depoimento dos artistas. Todos sabiam que estavam vivendo um momento de fato histórico.
A Estrada para Woodstock
De Michael Lang
Editora Belas Letras, 368 páginas com 88 fotos,
R$ 69,90.
Compras feitas até 19 de agosto no site da editora ganham kit com bóton, cartões- postais e pôster