Assim como o repórter, João Bosco tergiversa. Começa falando de Mano que Zuera, seu disco mais recente com faixas inéditas, lançado em 2017. Mas as sinapses inquietas levam o assunto a processos de composição, à chegada aos 70 anos, à relação com os filhos, às influências de amizades como Vinicius de Moraes e Clementina de Jesus, à situação política atual, ao WhatsApp e às singularidades de tocar à beira da praia.
Quando fala do show que fará neste sábado, em Atlântida, no entanto, o cantor, compositor e violonista – um dos mais respeitados artistas do Brasil – é direto nos elogios ao projeto Sons de Verão, criado pelo produtor Antonio Villeroy. A iniciativa já levou ao palco do Bali Hai (Avenida Central, 31) Ed Motta, e estão marcadas na agenda apresentações de Toquinho (9/2) e Kleiton e Kledir (23/2).
– No verão, é típico você ouvir línguas diferente, uma grande diversidade de sons. O verão brasileiro é uma espécie de babel tropical, então é muito interessante que haja um projeto que contemple artistas com ideias distintas, para que o público possa desfrutar vários caminhos – avalia Bosco.
Dono de um estilo peculiar de tocar violão e de cantar – que abarcam desde a poética malandra de Vinicius, seu padrinho artístico, à cantoria nagô –, João Bosco alcançou com Mano que Zuera seu 26º disco em mais de 45 anos de carreira. Nas 11 faixas, o mineiro voltou a assinar uma música com Aldir Blanc (Duro na Queda, que descreve um valentão amolecido pela perda de um amor), seu parceiro em clássicos como O Bêbado e a Equilibrista, e também convocou os filhos Francisco e Julia.
– Desde que conheci Vinicius de Moraes, despretensiosamente, ao bater na porta da sua pousada para apresentar uma composição e ser recebido com uma garrafa de uísque, percebi que a parceria musical beira uma espécie de amizade. Ou seja, não se faz música pelo telefone ou pelo WhatsApp. Com Aldir ou com meus filhos, é um exercício de amizade e proximidade.
Sozinho no palco, Bosco apresentará neste sábado as gemas de seu vasto repertório, incluindo as releituras de faixas antigas, como João do Pulo e Sinhá, que ganharam novas versões em Mano que Zuera.
– É preciso estar sempre em posição, na pontaria, para entender o que a música quer ser. Isso muda inclusive com o tempo, por isso é preciso manter esse exercício ativo. Faço isso o tempo todo, com músicas minhas ou não.