Antes do sertanejo universitário, houve o sertanejo. E, com o sertanejo, a música caipira. Embora esses rótulos se confundam um pouco, é essa tradição de raiz que é resgatada pelo trio Viola Perfumosa, formado por artistas conhecidos por suas carreiras individuais: a mineira Ceumar (voz, violão e tambor), o carioca Lui Coimbra (voz, violoncelo, violão e rabeca) e o paulista Paulo Freire (voz, viola caipira e contação de causos).
Conferindo ao repertório delicados arranjos camerísticos, o conjunto desembarca em Porto Alegre para apresentar o repertório do elogiado disco homônimo lançado neste ano. O show será nesta terça-feira (6), às 21h, no Theatro São Pedro, com ingressos de R$ 30 a R$ 60.
O álbum e o show são dedicados a Inezita Barroso (1925 – 2015), intérprete e pesquisadora de gêneros nacionais que se dedicou não apenas à música caipira, mas também a outras vertentes. Para Paulo Freire, homenageá-la "é mergulhar no Brasil profundo, é valorizar o seu exemplo artístico e humano":
– No show, apresentaremos famosas canções de seu repertório, como Moda da Pinga e Luar do Sertão, assim como músicas menos conhecidas, como Coco do Mané e Bolinho de Fubá. Criamos arranjos inéditos, inspirados na liberdade e comprometimento que Inezita tinha com a nossa música.
Guardiões da tradição
Como exemplo da abrangência da atuação de Inezita, Freire lembra que ela criou o disco Danças Gaúchas (1955) a partir das pesquisas de Barbosa Lessa e Paixão Côrtes. Outra conexão com o Sul: na gravação do Viola Perfumosa para Índia, Ceumar toca o bombo leguero, que nas viagens substitui por uma zabumba e um tambor de folia. Diz a artista:
– As canções são lindas, com poesia e melodias únicas. Nosso intuito foi deixar a beleza inundar o disco, e o show também traz uma qualidade quase camerística, mas tem outros elementos da obra de Inezita: o humor, por exemplo, e a exaltação da simplicidade da vida.
Destaca-se no repertório recolhido pelo Viola Perfumosa letras que são verdadeiras contações de histórias, a exemplo de Pedro Paulo. Lui Coimbra afirma que os causos são uma das facetas mais importantes do trio:
– São parte da própria identidade do que a gente entende por cultura caipira. No trabalho do Viola, unidos ao violoncelo, que é um instrumento da tradição erudita, e junto com os arranjos de pegada contemporânea, constituem a particularidade do nosso trabalho, que é mostrar a nobreza do Brasil de dentro, dos interiores, do jeito mais bonito que a gente conhece.
Coimbra compara a música caipira à agricultura familiar, enquanto o sertanejo mainstream seria o agronegócio:
– Nós somos guardiões da tradição, como gostaria dona Inezita. Os meninos e meninas do sertanejo universitário estão fazendo o que devem fazer, inovando, inventando, subvertendo. Tem espaço para as duas coisas.
VIOLA PERFUMOSA
Nesta terça-feira (6), às 21h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 30 (galerias), R$ 40 (camarote lateral), R$ 50 (camarote central) e R$ 60 (plateia e cadeiras extras), à venda na bilheteria do teatro e pelo site.