Tim Bernardes se considera um cara de sorte. Filho do músico, ator, jornalista e locutor Mauricio Bernardes – que formou nos anos 1980, ao lado de André Abujamra, Os Mulheres Negras –, não teve dúvidas ao decidir o que fazer da vida. Foi por volta dos 15 anos que se deu conta de que música era a coisa que mais amava – e que poderia desenvolvê-la profissionalmente. Aos 17, ingressou no bacharelado em Música Popular da Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo.
Dez anos depois, retorna de turnê em Portugal para dois shows na Capital: um com Guilherme D’Almeida e Gabriel Basile, parceiros na banda O Terno, e outro solo, acompanhado apenas de seus instrumentos musicais.
– Acho que se tivesse que escolher outra profissão hoje, seria alguma coisa com artes: artes plásticas, cinema, moda, coisas estéticas que tenham a ver com cultura pop – pondera.
Não por acaso, o álbum Recomeçar, seu primeiro trabalho solo, que será lançado na Capital hoje, tem um quê de cinematográfico. Tim foge à tendência atual de lançar singles independentes entre si e constrói uma narrativa sonora para ser ouvida do início ao fim, tal qual se assiste a um filme:
– É um disco que se dedica totalmente a uma temática e a um conceito. E eu tinha essa coisa na cabeça que eu já ia juntando as músicas, uma entrava na outra, eu queria misturar elas como em um filme, como se fosse um plano-sequência, sabe?
Embora só tenha sentado no estúdio para concretizar as ideias no início do ano passado, Tim já vinha guardando suas canções mais íntimas desde os 18 anos, quando compôs Não, sobre o fim de um relacionamento.
– Elas não eram um lado B da coisa, eram composições de que eu gostava tanto quanto, algumas até mais do que as que eu tava fazendo com O Terno. Mas acho que eu ainda tinha uma certa timidez ou uma insegurança, queria dar um tempo para ver se sobreviviam as composições.
Foi só depois de gravar o Melhor do Que Parece e fazer as turnês que Tim se sentiu mais tranquilo e seguro para se bancar como um artista solo também.
Mais do que uma coletânea de "músicas de término", Recomeçar reúne canções sobre uma busca pessoal de lidar não apenas com a solidão, mas também com os demais enfrentamentos do início da vida adulta – inclusive os políticos. É o caso de Tanto Faz, composta em 2016, sobre um país que "vai ter Copa, vai ter Carnaval, mas continua errado".
– Talvez por ser tão pessoal, Recomeçar sirva para encaixar em pessoalidades fora a minha. Acho que O Terno conversa com uma geração de uma forma mais ampla, enquanto o meu trabalho solo fala mais com as pessoas individualmente, no íntimo.
É nesse clima intimista que Tim sobe ao palco do Theatro São Pedro hoje à noite, como se "estivesse mostrando as composições no meu quarto para as pessoas".
– É um show em que eu fico completamente sozinho, só eu, piano e guitarra, e aí eu queria focar nas composições e na solidão da coisa, sabe?
Bem diferente do show de amanhã, que recupera, em parte, a atmosfera da apresentação do trio paulistano no Lollapalooza, em março deste ano.
– Essa é a primeira dobradinha que a gente está fazendo. Era uma coisa para a qual a gente já via uma demanda. A equipe é muito semelhante, então viaja toda a turma de uma vez. É uma coisa que a gente vai seguir fazendo depois em Goiânia: um dia eu, um dia O Terno.
TIM BERNARDES
Quarta-feira (20), às 21h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº).
Ingressos: R$ 40 (galerias), R$ 60 (camarotes laterais), R$ 70 (camarote central) e R$ 80 (plateia e cadeira extra), à venda no link bit.ly/TimBernardesPOA e na bilheteria do teatro, hoje e amanhã, das 13h até o horário de início do espetáculo.
O Terno com metais e orquestração
Lançado com show no Opinião em 2016, Melhor do Que Parece foi apresentado no Theatro São Pedro em setembro do ano passado em um dos primeiros shows de divulgação de sua versão em vinil, já com a participação do trio de metais formado por Amilcar Rodrigues, Douglas Antunes e Filipe Nader.
Na quinta (21), os responsáveis pelos instrumentos de sopro repetem a parceria com O Terno no palco do São Pedro, também às 21h. A julgar pela velocidade com que os ingressos se esgotaram, a ausência de ineditismo não é um problema para os fãs da banda formada por Tim Bernardes, Gabriel Basile e Guilherme D’Almeida.
– É um show semelhante ao que a gente já fez aí, mas com as mudanças que fizemos no Lollapalooza (em março). Acho que por já ter feito uma vez, a gente pensa em colocar no repertório coisas de outros discos que a gente não tocou em Porto Alegre ainda, esse tipo de coisa – explica Tim.
Foi do estúdio em São Paulo que o músico atendeu a ligação de ZH, entre uma gravação e outra do que gosta de chamar de "o futuro disco do Terno":
– Não é uma coisa para agora, não tenho nada muito estruturado para falar, mas a gente já está mexendo em material novo em estúdio, experimentando.
Ainda sem previsão de lançamento, o próximo álbum do trio paulistano guarda ao menos uma certeza: a presença de arranjos de orquestra, que começaram a surgir em Melhor do Que Parece e foram essenciais na narrativa de Recomeçar.
– Como eu me formei em Música, eu tinha uma mínima noção de como organizar essas ideias, mas não tenho estudo formal em orquestração ou coisa assim. Então eu fiz de um jeito muito semelhante a como faço os arranjos da banda, de voz e tal. O que eu achei legal, porque, no fim das contas, encontrei uma "linguagem de orquestra" minha – celebra.
O TERNO COM METAIS
Banda apresenta repertório do álbum Melhor do que Parece com o trio de metais formado por Amilcar Rodrigues, Douglas Antunes e Filipe Nader.
Quinta (21), às 21h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº).
Ingressos esgotados.