Nem sempre a expressão “grande concerto” pode ser levada tão ao pé da letra quanto na noite desta terça-feira (31/10), no Salão de Atos da UFRGS, quando a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) receberá três coros para executar a Sinfonia nº 2 (Lobgesang), de Felix Mendelssohn (1809 – 1847). Estarão no palco, junto com os músicos da orquestra, o Coro Sinfônico da Ospa, o Grupo Cantabile e o Coro Universitário da Ulbra. Serão, ao todo, 120 cantores, além dos solistas Elisa Machado (soprano), Paola Leonetti (soprano) e Maicon Cassânego (tenor). O fato de o Grupo Cantabile (da Igreja da Reconciliação, na Rua Senhor dos Passos) e o Coro da Ulbra estarem vinculados a instituições de matriz luterana não é coincidência: o concerto vai celebrar os 500 anos da Reforma Protestante.
Concluída em 1840, a Sinfonia nº 2 foi composta em homenagem aos quatro séculos da invenção da prensa de tipos móveis por Johannes Gutenberg, cuja Bíblia, datada de 1455, foi o primeiro livro impresso do Ocidente. Luminar da cultura de origem luterana, Mendelssohn inseriu na composição diferentes trechos bíblicos. Singular em sua forma, uma “sinfonia cantata”, a obra tem uma primeira parte exclusivamente sinfônica, com três andamentos, e uma segunda parte (dividida em nove trechos) com coro e cantores solistas. O modelo de Mendelssohn é Beethoven, que havia empregado formato similar em sua Sinfonia nº 9, composição encerrada com o célebre coro Ode à Alegria.
– Mendelssohn foi influenciado por grandes compositores cujas obras conheceu em sua formação. Como veio de uma família de posses, entrou em contato com boas partituras, o que lhe possibilitou conhecer tanto a música de Beethoven e Bach quanto a de outros compositores – explica o maestro Manfredo Schmiedt, que será o regente do concerto.
A biografia de Mendelssohn é tão interessante quanto sua música. Seu avô era o filósofo Moses Mendelssohn (1729 – 1786), grande nome do iluminismo judaico – também conhecido como Haskalá. Com o objetivo de se assimilar à sociedade alemã em uma época na qual os judeus eram marginalizados, os pais de Felix o batizaram, aos sete anos, segundo a tradição luterana, junto com seus irmãos. Depois, os pais também se batizaram, adotando o sobrenome Bartholdy – por isso, o compositor também é conhecido como Felix Mendelssohn-Bartholdy. Embora tenha vivido como cristão e expressado isso em sua música, Mendelssohn conservou certa referência residual ao judaísmo. Na Alemanha nazista, sua música e sua memória foram banidas pelo regime.
Quem comparecer ao concerto de hoje poderá conhecer um pedaço dessa história no que ela tem de melhor: a música. O maestro Schmiedt destaca:
– Mendelssohn é um compositor romântico, mas com forte influência do período clássico. Sua música é extremamente tonal e melódica, fazendo referência ao contraponto de Bach. É uma obra de grande imponência, mas ao mesmo tempo com certa leveza que remete ao período barroco.
CONCERTO DA OSPA
Nesta terça-feira (31/10), às 20h30min.
Salão de Atos da UFRGS (Av. Paulo Gama, 110), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 30. Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante.
À venda na bilheteria do local nesta terça das 11h até a hora do espetáculo.
O concerto: a Ospa executará a Sinfonia nº 2, de Mendelssohn, com o Coro Sinfônico da Ospa, o Grupo Cantabile e o Coro Universitário da Ulbra. Solistas: Elisa Machado (soprano), Paola Leonetti (soprano) e Maicon Cassânego (tenor). Regente: Manfredo Schmiedt.