Bravatas de jovens roqueiros não devem ser levadas ao pé da letra. O The Who sintetizou na letra de My Generation o espírito de urgência que movia a garotada nascida sob os escombros da Londres arrasada pelas bombas de Hitler na II Guerra: "Espero morrer antes de ficar velho". Mais do que uma canção, este hino comportamental consagrou a banda britânica em 1965, quando ainda não existiam roqueiros velhos.
Para aquela turma gestada na classe operária e apaixonada pelos pioneiros do rock e pela seminal música negra que vinham dos EUA, portanto, a projeção de vovôs grisalhos sobre um palco tocando em alto volume era risível. Pete Townshend e Roger Daltrey, cérebro e coração do The Who, amadureceram - e sobreviveram - para ver o temor da juventude transformar-se em uma brilhante trajetória. O guitarrista de 72 anos e o vocalista de 73 seguem em plena forma e sob intensa adoração de fãs de diferentes gerações bafejados com a sorte de assistir a um dos gigantes do rock ainda em pé. E que finalmente incluiu o Brasil em uma turnê. Após arrancar lágrimas e gritos em São Paulo e no Rock in Rio, a banda toca em Porto Alegre amanhã, no Anfiteatro Beira-Rio.
Townshend e Daltrey seguem em frente com um diferencial em relação a alguns de seus contemporâneos em atividade. Celebram tão somente o glorioso passado. Do vasto repertório, costumam pinçar para o show 22 faixas. Do primeiro sucesso, o single I Can't Explain, de 1965, ao último disco que gravaram até anunciarem uma despedida não cumprida, It's Hard, de 1982 (veja abaixo). Em meio a reuniões pontuais, um novo disco viria 24 anos depois, Endless Wire (2006), trabalho digno mas sem maior repercussão - e já sem a presença do baixista John Entwistle, que morreu em 2002, aos 57 anos, vitimado pela mistura de álcool, cocaína e farra com uma stripper num hotel de Las Vegas. Os excessos etílicos, químicos e sexuais já haviam tirado da banda seu motor, o baterista Keith Moon, que se foi com 32 anos em 1978 - ironicamente, por overdose do remédio para tratar seu alcoolismo.
O The Who entrou em cena na Swinging London em 1964 encarando Beatles e Rolling Stones com características únicas: peso, volume, fúria e ambição para explorar territórios até então estranhos a um grupo de rock. Símbolos do chamado movimento mod, associado ao estiloso visual dos pés à cabeça, os três músicos virtuosos e o vocalista carismático subiam ao palco sempre para arrasar. Ao final das performances, restavam queixos caídos e guitarras, bateria e amplificadores destruídos. Mas o inquieto Townshend queria subir a outro patamar como compositor, criando peças conceituais. Do ensaio com A Quick One, While He's Away, no segundo disco, A Quick One (1966), chegaram à ópera-rock Tommy (1969). Daltrey incorporou com tal intensidade o garoto surdo, cego e mudo que se torna um mestre do fliperama, personagem que tem sua saga contada nesse referencial álbum duplo, que acabou protagonizando, em 1975, o filme musical dele derivado.
Trechos de Tommy estão contemplados no show, assim como os da sua outra referencial ópera-rock, Quadrophenia (1973). E mais hits do LP Who's Next (1971): Baba O'Riley, Behind Blue Eyes e Won't Get Fooled Again. De Who Are You, de 1978, que marcou a despedida de Moon, está a faixa-título, que gerações mais novas conhecem pela abertura do seriado C.S.I. Com o ex- Small Faces Kenney Jones nas baquetas, os discos Face Dances (1981) e It's Hard também são lembrados. Tem ainda a faixa com a qual se pode ilustrar, adaptando à maturidade o sentido original da letra juvenil, o atual momento de Townshend e Daltrey: The Kids Are Alright ("Os garotos estão bem").
No palco com Pete Townshend e Roger Daltrey está, desde 1996, o baterista Zak Starkey, filho do beatle Ringo Starr. A banda é completada pelo guitarrista Simon Townshend, irmão caçula de Pete, e pelo baixista Jon Button, incorporado na atual turnê, mais um trio de tecladistas/vocalistas: John Corey, Loren Gold e Frank Simes. Chegue cedo ao Beira-Rio para assistir à abertura com outra banda britânica marcada por altos, baixos e tragédias: Def Leppard.
Possível repertório
O The Who costuma tocar 22 músicas entre essas que estão no repertório da turnê
- I Can't Explain (Single, 1964)
- The Seeker (Single, 1970)
- Who Are You (Who Are You, 1978)
- The Kids Are Alright (My Generation, 1965)
- I Can See for Miles (The Who Sell Out, 1967)
- My Generation (My Generation, 1965) / Cry If You Want (It's Hard, 1982)
- Naked Eye (Odds & Sods, 1974)
- Behind Blue Eyes (Who's Next, 1971)
- Bargain (Who's Next, 1971)
- Join Together (Single, 1972)
- You Better You Bet (Face Dances, 1981)
- 5:15 (Quadrophenia, 1973)
- I'm One (Quadrophenia, 1973)
- The Rock (Quadrophenia, 1973)
- Love, Reign O'er Me (Quadrophenia, 1973)
- Eminence Front (It's Hard, 1982)
- Amazing Journey (Tommy, 1969)
- Sparks (Tommy, 1969)
- Pinball Wizard (Tommy, 1969)
- See Me, Feel Me (Tommy, 1969)
- Baba O'Riley (Who's Next, 1971)
- Won't Get Fooled Again (Who's Next, 1971)
- Relay (Single, 1972)
- Squeeze Box (The Who by Numbers, 1975)
- Drowned (Quadrophenia, 1973)
- The Punk and the Godfather (Quadrophenia, 1973)
- Substitute (Single 1966)
Serviço
THE WHO E DEF LEPPARD
- Terça-feira (26), às 19h45min (Def Leppard, banda de abertura) e 21h30min (The Who)
- Anfiteatro Beira-Rio (Av. Padre Cacique, 891)
- Abertura dos portões: 17h
- Menores de seis a 13 anos entram apenas acompanhados dos pais ou responsáveis
- Ingressos: R$ 580 (pista premium), R$ 360 (cadeira inferior), R$ 230 (cadeira superior). Ponto de venda sem taxa de serviço: Hits Store (Shopping Iguatemi – Av. João Wallig, 1.800, 2º andar). Descontos de 50% para os cem primeiros sócios do Clube do Assinante que gerarem o voucher na página Clube e de 25% para os cem seguintes (exceto nos setores pista premium e camarote e sujeito à disponibilidade)
- Venda com taxa: pelo site Ingresso Rápido