Tirando os drinques, vai ser como em clubes do tipo Blue Note, Village Vanguard ou Birdland: nesta quinta-feira (17), o Instituto Ling receberá uma dupla de nomes de ponta do jazz internacional em seu auditório de 89 lugares, em uma proximidade que convida à intimidade entre músicos e público. Da mesma forma que naqueles e em outros templos jazzísticos nova-iorquinos, o centro cultural porto-alegrense terá duas sessões na mesma noite do show que reúne o trompetista Roy Hargrove e a cantora Roberta Gambarini – a primeira, às 20h, teve ingressos rapidamente esgotados, o que motivou a produção a abrir um novo horário, às 21h30min, que também já lotou. A corrida para garantir uma poltrona é plenamente justificável: mesmo jovens – mas não novatos –, Hargrove e Roberta possuem uma sólida e elogiada carreira nos Estados Unidos, pavimentada por discos de alta qualidade e participações ao lado de velhos tigres e novos leões do jazz. Em sua primeira vinda à capital gaúcha, o instrumentista e a vocalista estarão acompanhados da banda do trompetista, formada por Quincy Phillips (bateria), Ameen Sultan Saleem (baixo), Tadataka Unno (piano) e Justin Jay Robinson (sax e flauta).
Desde que se conheceram na Dizzy Gillespie All-Star Big Band, Hargrove e Roberta mantêm uma parceria que já dura uma década, apresentando-se juntos nos principais clubes e festivais do circuito de jazz. Um dos melhores trompetistas do gênero da atualidade, o texano já tocou com gigantes como Roy Haynes, Oscar Peterson, Sonny Rollins e Wynton Marsalis – que se transformou em mentor de Hargrove depois de escutá-lo tocar aos 16 anos. Com cerca de 20 discos gravados como líder, além de participações em dezenas de outros álbuns e projetos, Roy Hargrove tem dois prêmios Grammy na prateleira: o primeiro foi recebido em 1998, pelo excelente disco Habana, gravado com a banda afro-cubana que criou, a Roy Hargrove's Crisol – e que incluía o grande pianista cubano Chucho Valdés; o outro troféu veio em 2002 com o não menos sensacional Directions in Music: Live at Massey Hall, álbum em que divide o protagonismo com Herbie Hancock e Michael Brecker.
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Gravando também com artistas oriundos de cenas pop como hip hop, R&B, soul, funk, gospel e groove, Roy Hargrove incorpora essas influências ao seu jazz acústico e neo-bop. No começo dos anos 2000, com o grupo The RH Factor, explorou as possibilidades de soul, funk e hip hop – até tomar novos rumos ao montar a orquestra The Roy Hargrove Big Band.
Dupla mantém parceria musical há 10 anos
Já a italiana Roberta Gambarini foi indicada ao Grammy por seu disco de estreia, chamado Easy to Love (2006), em que interpretava standards da canção norte-americana como Lover Man, Porgy, I's Your Woman Now e Smoke Gets in Your Eyes – além de No More Blues, versão em inglês do clássico da bossa nova Chega de Saudade. Nascida em Turim, a cantora mudou-se em 1998 para os Estados Unidos a fim de estudar música em Boston – e, passadas poucas semanas de sua chegada, participou do concurso Thelonious Monk International Jazz Vocals Competition, ficando em terceiro lugar, atrás da cantora Jane Monheit. Convidada a cantar em Nova York, Roberta rapidamente tornou-se conhecida no cenário jazzístico, dividindo palcos com astros como Dave Brubeck, Hank Jones, Clark Terry, Jimmy Cobb, Toots Thielemans, Paquito D'Rivera, Cyrus Chestnut, Kenny Burrell e James Moody – saxofonista que virou professor e amigo da intérprete.
Dona de uma voz limpa e afinadíssima, de timbre agradável, Roberta é conhecida também por sua desenvoltura no scat singing – técnica vocal de improviso sem palavras característica de divas como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e Carmem McRae.
Em turnê por Argentina e Brasil, Roy Hargrove e Roberta Gambarini vão se apresentar depois no Sesc Pompeia, em São Paulo, nos próximos dias 24 e 25, dentro da programação do festival Jazz na Fábrica. Mas o climão de clube de jazz, meus amigos, só vai rolar aqui em Porto Alegre mesmo.
Entrevista com Roberta Gambarini
Você e Roy Hargrove têm uma parceira de mais de uma década. Como é cantar acompanhada do trompete dele?
Ele tem o raro dom de "cantar" com seu trompete. Sua habilidade, em conjunto com o resto, é incrível. Isso faz com que cantar com ele seja uma experiência ótima, é a espontaneidade e a fluidez da música que sai dele.
Como foi para você encontrar um lugar no mundo do jazz sendo italiana em meio a tantas cantoras norte-americanas de alto nível?
Há cantoras de alto nível no mundo todo atualmente. O que torna isso mais desafiador nos EUA é o mercado e a necessidade de encontrar uma identidade e colocação nesse mercado. Eu fui imensamente beneficiada por mentores, a quem devo tudo.
O que você admira na música brasileira?
Seu incrível lirismo, a beleza e a poesia da música e das letras.
Quais são suas influências?
Ella, Sarah, Carmen McRae e Billie Holiday são meus ídolos de toda a vida. Minhas influências são muitas, e vão de grandes cantoras de jazz até intérpretes sul-americanos, como Roberto Goyeneche (cantor argentino de tango), brasileiros, como Elis Regina, e de ópera, como Maria Callas e Renata Tebaldi, entre outros.
Os shows aqui serão em um lugar do tamanho de um clube. Qual é a sensação de se apresentar em um lugar pequeno?
É ótima, e espero que o público se sinta como se estivéssemos todos juntos sentados em uma confortável sala de estar na minha casa.
ROY HARGROVE E ROBERTA GAMBARINI
Quinta-feira, às 20h e às 21h30min.
Duração: 60 minutos cada sessão. Classificação: livre.
Instituto Ling (Rua João Caetano, 440), fone (51) 3533-5700, em Porto Alegre.
Ingressos esgotados.
Show com o trompetista norte-americano e a cantora italiana, acompanhados de Quincy Phillips (bateria), Ameen Sultan Saleem (baixo), Tadataka Unno (piano) e Justin Jay Robinson (sax e flauta).