Depois dos discos Mundo de Pixinguinha (2013) e Samba de Chico (2016), dedicado à obra de Chico Buarque, Hamilton de Holanda lança mais um trabalho monotemático: acompanhado de seu quinteto, o virtuoso bandolinista debruça-se sobre o cancioneiro de Milton Nascimento e parceiros em Casa de Bituca. O álbum com 11 faixas homenageia o mais mineiro dos cariocas às vésperas do seu aniversário de 75 anos. O CD e DVD também celebra os 10 anos do conjunto, que reúne além de Hamilton os músicos André Vasconcelos (baixo acústico), Gabriel Grossi (harmônica), Márcio Bahia (bateria) e Daniel Santiago (violão). Antes de Casa de Bituca, a formação já tinha editado três discos consagrados, Brasilianos 1, 2 e 3.
Em junho de 2016, o quinteto foi para o estúdio com a intenção de produzir vídeos e levantar um novo repertório. Ali nasceu a ideia de registrar temas de Milton. No final do ano, o Hamilton de Holanda Quinteto foi até Juiz de Fora, casa de Bituca – apelido do sócio fundador do Clube da Esquina –, para gravar a faixa Bicho Homem.
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– Sou encantado pelas imagens que a música de Milton me remete, o tipo de harmonia que ele inventou é uma coisa rara. Eu ouço a música dele e vejo coisas, sempre ligadas a aspectos humanistas e mesmo humanitários – conta Hamilton, explicando como foi a sessão com o ídolo:
– Ele escutou nossa gravação de Bicho Homem e foi acrescentando coisas. Os vocalises dobrados vão em um crescendo até chegar em um coral mineiro grandioso.
Casa de Bituca traz clássicos de Milton com parceiros como Fernando Brant, Lô Borges e Marcio Borges: Bola de Meia, Bola de Gude, Clube da Esquina Nº 2, Ponta de Areia, Saudades dos Aviões da Panair, Canção da América e Vera Cruz.
– Fui escolhendo o repertório pelas músicas que me emocionavam. Quando morei em Paris, por exemplo, o disco Angelus, que tem uma versão de Clube da Esquina Nº 2, me ajudava a aliviar a saudade do Brasil. Depois, fomos selecionando músicas que tinham a ver com o quinteto, sem medo de gravar temas que já foram registrados muitas vezes antes – relembra.
As exceções são a faixa bônus Guerra e Paz I, composição de Hamilton que já figurava no disco Brasilianos 3 e que também conta com a participação de Milton, e Mar da Indiferença, parceria de Hamilton e Marcos Portinari inspirada na comovente foto do menino refugiado sírio morto em uma praia da Turquia. Nesta última, aliás, o bandolinista assume pela primeira vez os vocais em uma gravação:
– As pessoas pensam que os instrumentistas não gostam de canção. Adoro poesia e música cantada. Sempre gostei de cantar.
A abordagem do Hamilton de Holanda Quinteto em Casa de Bituca é respeitosa, seguindo as melodias e harmonias das canções originais em elegantes versões acústicas, nas quais se destacam a fluência e o entrosamento entre os músicos. A maior ousadia ficou para o fim do disco, com o hino Travessia, que virou quase um samba carioca cantado por Alcione:
– A obra do Milton é ligada à grandiosidade da voz. Por causa disso, às vezes a gente não se dá conta do incrível compositor que ele também é.
Casa de Bituca
De Hamilton de Holanda Quinteto
MPB, 11 faixas,
Biscoito Fino, R$ 39,90