Com o empenho de um fã apaixonado, Sergio Baldassarini Junior dedicou-se por quase três anos a realizar o documentário Jovem aos 50 – A História de Meio Século da Jovem Guarda, tributo ao cinquentenário do movimento musical que eclodiu em 1965 e fez ferver a juventude brasileira.
Trata-se de uma produção muito modesta em aspectos estéticos e narrativos. Baldassarini, entretanto, cumpre bem sua ambição celebratória destacando a importância da Jovem Guarda em seus elementos históricos, comportamentais, culturais e emocionais. Quase nada restou dos registros do programa da TV Record que deu nome ao movimento, comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa, de 1965 a 1968, nas tardes de domingo – o acervo da emissora foi destruído num incêndio.
Jovem aos 50 compensa nos registros orais a carência de imagens. São cerca de 50 entrevistados diante da câmera, entre artistas, produtores e especialistas no tema. Embaralhando datas e nomes sem maior rigor, o filme interliga a Jovem Guarda à chegada do rock ao Brasil, em meados dos anos 1950, e ao posterior sucesso dos Beatles. Na onda embarcaram de cantores românticos já consagrados como Carlos Gonzaga (famoso pela versão nacional de Diana, de Paul Anka) à garotada para quem o novo som encontrava ressonância geracional, entre eles Roberto, Erasmo, Eduardo Araújo, Sérgio Mendes, Jerry Adriani, integrantes de grupos como The Clevers/Os Incríveis, Renato e Seus Blue Caps e The Fevers e, entre outras duplas, Leno e Lilian e Deny e Dino.
Com exceção de Roberto, creditado na sua ausência como "monarca", protagonistas e coadjuvantes da agitação contam histórias saborosas e emocionantes. Entre elas, a origem "comunista" do nome do movimento, derivada de um discurso de Lenin na Revolução Russa, e a transição das versões em português de hits estrangeiros para as composições próprias – Menina Linda, grande sucesso de Renato e Seus Blue Caps, nasceu quando o vocalista achou que não saberia cantar em inglês num programa, a pedido, I Should Have Known Better, dos Beatles, e escreveu uma letra em português meio que de improviso. Teve ainda a rivalidade estimulada pela imprensa entre o Rei Roberto e o Príncipe Ronnie Von. Já os integrantes do grupo The Jordans tiram do baú as imagens de um filme Super-8 mostrando seu encontro inusitado com os Beatles em Londres.
Os veteranos ídolos rebatem ainda, com o aval de Caetano Veloso, as opiniões da ala purista e politizada da MPB que os via como alienados do momento que o Brasil vivia sob a ditadura. Caetano cita Quero que Vá Tudo pro o Inferno, com Roberto, como uma das canções mais transgressoras e contundentes do período. Leno garante: "Alienados eram eles, nós estávamos em sintonia com o mundo, com os Beatles, a contracultura e revolução sexual".
JOVEM AOS 50 A HISTÓRIA DE MEIO SÉCULO DA JOVEM GUARDA
De Sergio Baldassarini Junior.
Documentário, Brasil, 2016, 120min.
Em cartaz no Guion Center 3, às 21h30min.