A potência da voz e o romantismo de Liniker. A mescla de ritmos nordestinos com jazz, rock e vertentes do samba de As Bahias e A Cozinha Mineira, das vocalistas Raquel Virgínia e Assucena Assucena. O funk de MC Linn da Quebrada. O hip hop de Gloria Groove. O pop da cantora Pabllo Vittar. O rap de Rico Dalasam. O andrógino Johnny Hooker.
Artistas tão diversos estão formando um movimento musical que vem sendo chamado de MPBTrans. Em comum a todos esses nomes está a discussão da diversidade sexual e a luta contra o preconceito.
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– É um movimento como a bossa nova, com novos apelos, de imagens, de maneira de cantar – defende a cantora transexual Valéria Houston, que, junto a Madblush, é a representante gaúcha da trupe. – Falar em MPBTrans é uma validação de uma caminhada que vem de longe. É como uma assinatura importante, que fecha um contrato; é a cereja do bolo para um entendimento, ao menos no âmbito cultural – explica Valéria.
O "trans" que confere ao movimento o nome que vem sendo propagado não tem obrigatoriamente a ver com transexualidade. Dona do hit Todo Dia, Pabllo Vittar, apesar de se considerar um "garoto gay que faz drag", isto é, que se veste de mulher quando sobe no palco para os shows, também faz parte do grupo. A artista, que integra a banda do programa Amor & Sexo, demorou para se dar conta de que seu papel é maior do que apenas divertir com versos como "Eu não espero o Carnaval chegar pra ser vadia/ Sou todo dia".
– Não tinha noção do lado político do meu trabalho até receber mensagens de pessoas que diziam se inspirar em mim – lembra Pabllo, que afirma não precisar de nome feminino para ser drag queen.
Para a cantora trans Assucena, atração de hoje do programa comandado por Fernanda Lima que vai discutir questões de gênero, o problema não está nela, mas, sim, "no patriarcado, no machismo e na misoginia".
– Nos consideram seres noturnos, que andam nas sombras. Mas a gente está botando a cara no sol – destaca Assucena, que apresentou show em formato intimista de As Bahias e A Cozinha Mineira na Capital, no Ocidente, no começo do mês passado.
Na ocasião, sua parceira, Raquel Virgínia, em meio à empolgação do público, discursou. Após ser ovacionada, a cantora pediu aos presentes que respeitassem as mulheres transexuais não apenas quando estiverem brilhando no palco, mas também no dia a dia, na fila do banco, na padaria. Foi um recado para enfatizar que, por mais que a visibilidade trans tenha aumentado, o que impera ainda é o preconceito.
Temática LGBT ganha espaço na literatura
Por Alexandre Lucchese
alexandre.lucchese@zerohora.com.br
Nos últimos anos, personagens gays têm aparecido com maior frequência e naturalidade na literatura brasileira. Em 2016, três importantes autores gaúchos publicados por editoras do centro do país lançaram livros com homossexuais entre os personagens: Daniel Galera (Meia-noite e Vinte), Michel Laub (O Tribunal da Quinta-feira) e Samir Machado de Machado (Homens Elegantes). Além disso, Natalia Borges Polesso, escritora de Bento Gonçalves radicada em Caxias do Sul, alcançou reconhecimento nacional com Amora, livro de contos que arrebatou os prêmios Jabuti e Açorianos ao abordar a homossexualidade feminina.
Mais do que ocupar espaços na literatura, as questões de gênero estão consolidando um novo nicho no mercado. A maior expressão desse fenômeno é a Hoo Editora, fundada em 2015 e especializada na temática LGBT. Entre os destaques da casa está E se Eu Fosse Puta, narrativa confessional da travesti Amara Moira. A estudante cursava o doutorado na Unicamp, analisando a obra de James Joyce, quando decidiu contar como, depois de assumir a identidade de travesti, tornou-se também prostituta e escritora.
O mais recente lançamento da Hoo é o Diário de P. Landucci, em que a musicista e youtuber Paula Landucci, com mais de 600 mil seguidores, compartilha textos sobre diferentes assuntos, além de letras e cifras de suas músicas. A próxima publicação será o álbum Les Funkytoons, do artista visual Neroni Prandi, com ilustrações bem-humoradas de personagens gays.
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