Ele alcançou projeção mundial tocando um instrumento intrinsecamente ligado à música brasileira – mas em uma versão turbinada. Com seu bandolim de 10 cordas – duas a mais do que o usual –, Hamilton de Holanda ampliou o leque de timbres e as possibilidades estilísticas dessa voz protagonista do choro. Somado a seu virtuosismo e a uma incansável disposição para expandir os horizontes musicais, o instrumentista apelidado pela imprensa norte-americana de "Jimi Hendrix do bandolim" é atualmente um dos músicos brasileiros mais respeitados no Exterior.
No próximo dia 24, o carioca criado em Brasília volta a Porto Alegre para se apresentar no Instituto Ling, dando início à temporada musical do centro cultural. Dono de uma discografia caudalosa e eclética de quase 30 títulos, o artista de 40 anos vem na esteira do recente lançamento do DVD Mundo de Pixinguinha – Ao vivo, versão do CD lançado em 2013 que levou os troféus de melhor solista e álbum no Prêmio da Música Brasileira. A homenagem ao mestre Pixinguinha (1897 – 1973) reuniu grandes nomes internacionais como o acordeonista francês Richard Galliano, o pianista italiano de jazz Stefano Bollani e o também pianista jazzista cubano Omar Sosa.
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– O Galliano, por exemplo, já tinha ouvido falar de Pixinguinha, mas não conhecia bem a obra dele, e ficou encantado. Um dos meus objetivos principais era divulgar a obra dele entre os músicos de jazz. Deu certo – explica Hamilton em entrevista por telefone a Zero Hora.
O projeto original, além dos instrumentistas já citados, também contou com feras como o trompetista norte-americano Wynton Marsalis e três excelentes pianistas: o cubano Chucho Valdés, o português Mário Laginha e o brasileiro André Mehmari. No repertório do DVD, estão clássicos de Pixinguinha, como Carinhoso, Naquele tempo, Rosa, Segura ele e Um a zero, e alguns temas dos convidados.
– Apesar de ser o pai do choro, o Pixinguinha não era um cara fechado, ele tinha influência do jazz. Esse meu trabalho colou esse elo importante que há entre o choro e o jazz. A gente toca as partituras do Pixinguinha, mas também tem muita improvisação. Viajo desde 2000 para fora do país e faço essa divulgação da música brasileira, não apenas do Pixinguinha. Vejo como a música brasileira é querida lá fora. Fico impressionado como países como a Áustria, a Alemanha e a França gostam da nossa música, reconhecem a mistura de alegria com sofisticação harmônica. Quando eu toco uma ou duas notas, eles já sabem que é música brasileira – diz Hamilton.
Ganhador do Grammy Latino de melhor álbum instrumental com Samba de Chico – seu mais recente disco de carreira, em que interpreta versões de composições de Chico Buarque –, o músico vem na esteira de uma agenda lotada: no final de 2016, gravou uma participação no disco Casa de Bituca, que celebra a obra de Milton Nascimento, fez dois shows com João Bosco no MIMO Festival, apresentou-se no Rio de graça com a big band do projeto Baile do Almeidinha, lançou o CD de músicas infantis orquestradas Alegria. Para 2017, entre os muitos planos de Hamilton, estão dois concertos nos Estados Unidos, no final de maio e começo de junho, com Wynton Marsalis e a Jazz at Lincoln Center Orchestra, em homenagem a Thelonious Monk ("Estou começando a entrar no circuito de jazz nos EUA, que é mais fechado"), e uma nova vinda à capital gaúcha:
– Devo voltar aí mais tarde com as músicas do disco Caprichos com orquestração, do André Mehmari, ao lado da Orquestra de Câmara da Ulbra. Ia ser em outubro passado e acabou ficando para 2017.
Lançamentos do "Jimi Hendrix do bandolim"
MUNDO DE PIXINGUINHA – AO VIVO
Gravado no Teatro Alfa, em São Paulo, em 2013, o DVD é um desdobramento do premiado CD que o bandolinista gravou com participações especiais em homenagem ao "pai do choro". São 20 músicas, entre composições de Pixinguinha e temas de Hamilton e dos convidados: o acordeonista Richard Galliano (França) e os pianistas Stefano Bollani (Itália), Omar Sosa (Cuba) e André Mehmari (Brasil).
SAMBA DE CHICO
Holanda encontra Hollanda: Hamilton de Holanda gravou 15 composições antológicas de Chico Buarque de Hollanda. O disco ganhou no ano passado o Grammy Latino de melhor álbum instrumental. O repertório inclui sucessos como Vai passar, Construção, Vai trabalhar, vagabundo, Roda viva, Atrás da porta, O meu amor, Trocando em miúdos e A banda.
O BAILE DO ALMEIDINHA
Projeto surgido em 2012 no Circo Voador, no Rio de Janeiro, e inspirado em iniciativas semelhantes capitaneadas antes pelo saxofonista Paulo Moura e pelo maestro Severino Araújo, o Baile do Almeidinha coloca o povo para dançar com músicas de diversos compositores brasileiros. No disco, acompanhado pela banda do baile, Hamilton gravou músicas próprias, do flautista e saxofonista Edu Neves e do baixista gaúcho Guto Wirtti.
ALEGRIA
Em companhia do contrabaixista André Vasconcelos, do percussionista Thiago da Serrinha e da Orquestra do Estado de Mato Grosso, Hamilton recria nesse disco voltado para o público infantil os temas de desenhos animados como A pantera cor-de-rosa e Os Flintstones, da série Sítio do Pica-Pau Amarelo e do game Super Mario Bros. Completa o repertório a Suíte da infância, composta especialmente pelo bandolinista.
CAPRICHOS
Em faixas solo ou acompanhado por músicos como o acordeonista gaúcho Bebê Kramer, Hamilton homenageia seus mestres nesse sensacional CD duplo. São 24 "caprichos", dedicados a compositores como Pixinguinha, Luperce Miranda, Raphael Rabello, Bach e Donga e a ritmos e países.