Foi uma noite de Alegrete no Guaíba. Celebrando os aniversários de Ernesto e Paulinho, Os Fagundes se apresentaram no barco Cisne Branco, no dia 17 de janeiro. Os administradores da embarcação, que costuma realizar passeios pelo Guaíba, têm promovido shows de grupos e artistas de diferentes estilos – como Marmota Jazz e Gelpi – desde outubro, consolidando-se como um espaço singular para a música local.
– É o único palco flutuante de Porto Alegre – atesta Adriane Hilbig, proprietária do barco. – Quando nós retomamos as atividades, em outubro, o que queríamos era justamente mostrar não só a paisagem ou a natureza, mas também a cultura e a diversidade musical que nós temos. Temos apresentado reggae, samba, chorinho, entre outros.
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Em janeiro de 2016, ventos de mais de 100km/h haviam danificado a embarcação, que ficou fora de operação por oito meses pela primeira vez em seus 38 anos de atividades. Restaurado pelas arquitetas Monique Fontes e Ágatha Arboitte, o Cisne Branco foi reinaugurado no dia 27 de setembro, tendo retomado as navegações em 12 de outubro, com sua capacidade aumentada para 300 passageiros, além do espaço do deque superior (onde costumam ocorrer as apresentações musicais) ampliado para que mais pessoas possam aproveitar a vista panorâmica durante os passeios.
Os Fagundes já haviam se apresentado na embarcação em dezembro. Antes do show na semana passada, Neto era só empolgação com o palco flutuante.
– Estamos em um cartão-postal da cidade. Para quem chegou do Alegrete, tão distante, pensar nisso que está acontecendo aqui é motivo de muita emoção – vibra o vocalista do quarteto, composto também pelos seus irmãos Paulinho (violão e guitarra) e Ernesto (bombo leguero) e pelo pai dos três, Bagre Fagundes (gaita).
Para Paulinho, a combinação do quarteto com o Cisne Branco deu certo desde o primeiro momento:
– Acho que todas as nossas características são heranças do nosso pai (Bagre). O meu violão vem dele, o bombo leguero do Ernesto, também, além da música do Neto. Essa liberdade familiar que a gente teve para a música combina com a liberdade que o Cisne Branco está dando para a versatilidade musical de Porto Alegre.
Ernesto arremata:
– A água significa movimento. Música é movimento.
Trajeto
– Alguém sabe se esse barco chega no Alegrete? – indagou Ernesto Fagundes durante a apresentação.
Não foi desta vez. Das 19h30min às 22h30min, o Cisne Branco partiu do Cais Mauá e foi até a altura do bairro Assunção, na Zona Sul, para dar meia-volta e se dirigir à Zona Norte, atravessando a Ponte do Guaíba por baixo do vão móvel, e, em seguida, retornar ao Cais. Segundo Adriane Hilbig, proprietária da embarcação, o trajeto depende do clima e do vento:
– No show anterior do Os Fagundes, o barco fez o contorno no Delta do Jacuí e voltou pela ponte móvel.
Repertório eclético
Durante duas horas de show, Os Fagundes apresentaram um repertório no qual repassaram clássicos de sua carreira, como Origens e Canto Alegretense, cujos refrãos foram cantados a plenos pulmões pelos presentes no Cisne Branco, além de sucessos do regionalismo gaúcho, casos de Castelhana e Querência Amada.
– O roteiro é muito livre, bem no clima do passeio. Acho que isso nos atraiu muito para esse encontro. A gente passa pelo regionalismo gaúcho, pela música popular brasileira, pelo samba de Lupicínio Rodrigues e Túlio Piva – explica Ernesto.
Na apresentação, dois covers de Nelson Gonçalves, Naquela Mesa e A Volta do Boêmio, que contaram com a participação de Augusto Britto no bandolim. Ao ver Augusto com o instrumento, Bagre se empolgou:
– Com esse bandolim, deu vontade de cantar Bandolins, do Oswaldo Montenegro, mas vou poupá-los.
Quem sabe em uma próxima apresentação no barco?
– Eu acredito que nós repetiremos este projeto em outras oportunidades – avisou Bagre.
Entre amigos
Como a apresentação celebrava os aniversários de dois integrantes do quarteto, Paulinho e Ernesto, 60% da tripulação era composta por amigos e familiares dos Fagundes. Por isso, houve muita interação e brincadeiras dos músicos com o público e entre si.
Por exemplo, houve um momento no início do show que o barco começou a balançar. Neto apontou para seu pai, Bagre Fagundes:
– O único que não se assustou quando Cisne Branco começou a balançar.
Bagre não se deu por vencido:
– Afinal, sou peixe!
– Filho de Bagre, por certo, peixinho é – emendou Ernesto.
Além de parentes e amigos dos Fagundes, o ambiente da embarcação era composto por casais na faixa etária dos 50 anos e famílias. A maioria do público ficou no deque superior do barco durante o passeio. Mas quem estava no restaurante, no andar inferior, também não deixava de participar do show – a reportagem presenciou por ali uma senhora cantando o refrão de Castelhana.
Professora e fã
– Consegui! Consegui! – grita Nilsa de Freitas, animada com uma entrada para o Cisne Branco na mão.
É a terceira vez que a advogada de 75 anos passeia com a embarcação. Natural do Alegrete e moradora da Capital há 35 anos, é também professora aposentada e deu aula para o Neto na segunda série, fato que foi lembrado pelo cantor durante a apresentação.
Segundo Nilsa, ela vai aonde Os Fagundes forem. Só que o show no Cisne Branco tem um clima diferente:
– Ver o céu azul do Sul, ouvindo a música dos Fagundes, não tem coisa melhor. Ainda mais no verão – diz Nilsa.
Los Hermanos
Dois amigos argentinos de Luciana, filha de Bagre, estavam presente na embarcação: Jorge Arias, 34 anos, professor de música, e Marianela Cordoba, 26 anos, professora de teatro e arte. Eles notaram algo do país natal na apresentação.
– É como se fossem argentinos cantando em português (risos) – compara Marianela.
De pertinho
Enquanto Naquela Mesa era tocada pelo quarteto, Victor Silveira cantava junto. O analista dos Correios, de 51 anos, foi ao passeio com Os Fagundes acompanhado da mulher e de dois amigos.
– Costumo assisti-los no Parque da Harmonia ou na TV, mas sempre distante. É a primeira vez que venho no Cisne Branco, e é muito interessante essa proximidade com os artistas. Tu vais nos shows e não tem isso, essa informalidade que você vê aqui – aponta Victor.
A bailarina Maitê Fraga Goulart, 26 anos, já havia comparecido com o marido na apresentação anterior dos Fagundes. Para a segunda vez, trouxe 10 pessoas de sua família.
– Sempre segui Os Fagundes, desde os 14 anos. É um clima mágico, ver Porto Alegre de um ângulo que a gente não conhece, mais próxima da natureza – avalia Maitê.
Palco no Cisne Branco
Entre as atrações que já se apresentaram no barco estão Samba e Amor, Marmota Jazz, Gelpi, Good Samaritans, Paulinho Fagundes, Nani Medeiros, Mathias Pinto, Elias Barbosa, Samuca do Acordeon, Regional Imperial, A Figa, Império da Lã e Bruno Mad.
Em fevereiro, estão previstas atrações musicais de sextas a domingos. Entre os nomes confirmados estão Fino da Bossa, Bloco A, Nani Medeiros e Naquele Tempo. Além disso, no dia 7 do próximo mês haverá um passeio com Antonio Villeroy, em evento intitulado como Samboleria de Barco.