Em seu oitavo disco, um dos mais importantes cantores portugueses da atualidade resolveu celebrar a obra de um compositor brasileiro soberano. António Zambujo canta Chico Buarque em Até pensei que fosse minha, álbum com 16 faixas cujo show chega a Porto Alegre nesta quinta-feira, depois de ter sido apresentado em Paris e no Rio de Janeiro. No novo trabalho, o intérprete visita canções de várias fases do autor: de Morena dos olhos d’água, que Chico lançou em seu terceiro disco, em 1967, até Nina, presente no mais recente CD do mestre, de 2011.
– Chico é provavelmente o maior fazedor de músicas da língua portuguesa. A escolha das canções foi o mais duro, porque, em mais de 40 anos de carreira dele, fica difícil escolher apenas 16. Houve uma reunião entre eu, o Marcello Gonçalves (responsável pela direção musical e arranjos do disco), o João Mário Linhares (diretor de produção) e o próprio Chico, que teve uma participação no projeto mais ativa do que imaginei que ele teria. Ele sugeriu algumas músicas, como Cecília, que eu não conhecia e pela qual acabei me apaixonando. Poderia ter feito 30 seleções diferentes e não ficaria insatisfeito com nenhuma – explicou Zambujo em entrevista por telefone a ZH, acrescentando que a primeira seleção feita incluía cerca de cem composições buarquianas.
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O artista lusitano apresenta Até pensei que fosse minha nesta noite no Teatro do Bourbon Country – mesmo palco da última passagem do cantor pela Capital, em 2015, quando mostrou as músicas do ótimo álbum Rua da Emenda (2014). O retorno coincide com um momento consagrador na carreira de Zambujo: com mais de cem concertos agendados em vários países em 2016, o expoente do fado contemporâneo está em primeiro lugar na lista de discos mais vendidos de Portugal desde que sua homenagem a Chico Buarque saiu por lá, no começo de outubro. Até pensei... sela um relacionamento antigo do agora “comendador” – Zambujo recebeu o título de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique – com a música brasileira, marcado por gravações de temas verde-amarelos em obras anteriores, como o samba Último desejo, de Noel Rosa, e participações ao lado de artistas daqui.
Gravado entre Oeiras, na Grande Lisboa, e o Rio, o novo título junta músicos portugueses e brasileiros e conta com participações especiais nos vocais da cantora Roberta Sá em Sem fantasia, da fadista Carminho na canção O meu amor e do próprio Chico em Joana francesa. Os arranjos sensíveis de Marcello Gonçalves, violonista integrante do grupo carioca Trio Madeira Brasil, destacam as sonoridades acústicas dos violões e dos sopros e propõem soluções harmônicas e rítmicas renovadoras para as canções de Chico, sem, no entanto, desfigurá-las – caso, por exemplo, da folia meio jazzística na parte final de Geni e o zepelim, do fado chorado em Folhetim e do crescendo dramático de Cálice, que começa com Zambujo cantando a capela e que termina em rascantes dissonâncias.
– A ideia foi trazer as músicas do Chico para mais perto do meu jeito de cantar. É muito importante ter um pé na terra, quer dizer, nas minhas influências e em tudo aquilo que me formou enquanto cantor, por isso o fado e a música tradicional do meu país estão sempre presentes. Mas é preciso ter também um pé no ar, um pouco de caos, um pouquinho de loucura em tudo aquilo que faço – disse Zambujo a respeito de Até pensei que fosse minha, que reproduz na capa e na contracapa obras da artista visual brasileira Adriana Varejão e cujo título foi retirado da canção Até pensei.
ANTÓNIO ZAMBUJO CANTA CHICO BUARQUE
Quinta-feira, às 21h.
Teatro do Bourbon Country (Túlio de Rose, 80, fone 51 3375-3700).
O show: o músico português apresenta canções do disco Até pensei que fosse minha (Som Livre, 16 faixas, R$ 29,90).
Ingressos entre R$ 80 e R$ 150. Há desconto para sócios do Clube do Assinante.