Contemplado com o Prêmio Nobel de Literatura nesta quinta-feira, o cantor Bob Dylan se apresentou em Porto Alegre em três ocasiões: em 1991, no Gigantinho; em 1998, no Opinião; e em 2012, no Pepsi On Stage. Nos três shows, Dylan interagiu pouco, apresentou arranjos diferentes de suas músicas, mas esbanjou carisma e domínio de palco.
Em 1991, reportagem do 2º Caderno, de Zero Hora, apontou que Dylan "levantou e enlouqueceu a massa, que cantou junto e fez tremer o Gigantinho" e que "foi um show limpo em que não faltou nada".
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"Houve estranheza entre fãs desavisados pelo fato de que Dylan - acompanhado por Tony Garnier, na guitarra; John Jackson, no baixo; e Ian Wallace, na bateria - não manteve os arranjos originais dos seus clássicos hinos de protesto. Mas a versão sempre renovada de sua obra é uma faceta da disposição libertária do 'papa do folk rock'. O estilo discursivo que predominou em alguns momentos do espetáculo não frustrou a expectativa da seduzida plateia. Dylan, poeta, muitas vezes eleva a palavra sobre a música. Ou não seria Dylan", diz o texto publicado em 15 de agosto de 1991, no dia seguinte ao show.
Em reportagem do 2º Caderno assinada por Marcelo Ferla e publicada no dia 9 de abril de 1998, dois dias após a apresentação, o show em um Opinião lotado é descrito como antológico.
"O velho mestre do rock, do folk e do blues solou à moda guitar hero, saltitou feito um garoto, se curvou para as câmeras fotográficas - ainda que fosse proibido tirar fotos do show - e até sorriu, de cantinho, porque Robert Allen Zimmerman mostrando os dentes em pleno show, aí já é demais", descreve o texto.
Em seu segundo show na capital gaúcha, o cantor veio apresentar o disco Time out of mind, lançado em 1997. Logo, boa parte de seu repertório foi dedicado ao álbum.
"Dylan foi roqueiro até a medula e chegou a beirar o pop em sua hora e meia de show. Mesmo que boa parte do público não conhecesse algumas músicas de seu repertório, ele insistiu em canções novas ou que não pertencem aos seus álbuns de greatest hits. E convenceu ao ponto de ser ovacionado ruidosamente durante e ao final do espetáculo. Agradou tanto que as cartas na manga do set list foram deixadas de lado (por exemplo, Lay lady lay estava programada para ser uma provável terceira música, All along the watchtower também estava na lista grudada no palco do Opinião, mas a reação positiva do público tornou desnecessária suas execuções)", diz a matéria do 2º Caderno.
Já em 2012, no Pepsi On Stage, a reportagem de Zero Hora destaca que Dylan "mostrou uma faceta descontraída e, na medida do possível, empolgada" na apresentação.
"Dylan repetiu a faixa de abertura da turnê, Leopard-skin pill-box hat, e, na sequência, emendou uma seleção de clássicos no tom nostálgico dos primórdios do rock and roll. Como é comum nos shows de Dylan, ele canta algumas músicas com arranjos diferentes, desafiando os fãs a identificarem a faixa (...) Um público formado por diferentes gerações acompanhou emocionado o repertório que passou por Simple twist of fate, o rockabilly Summer days, com direito a Dylan empolgado tocando o teclado", sublinha a matéria publicada em 25 de abril de 2012, no dia seguinte ao show.
Em sua terceira passagem, Dylan novamente trocaria poucas palavras com o público: "Na única vez que se fez necessário falar, Dylan soltou um 'thank you, guys' e apresentou sua excelente banda".
A terceira apresentação encerrou de maneira catártica, com Blowing in the wind:
"Aos gritos de 'Dylan, Dylan, Dylan', a plateia ganhou o esperado bis: Blowing in the wind, sucesso que perpassa gerações e ganhou no palco uma versão com acompanhamento de violino que levou muita gente às lagrimas. Um show marcado por um Dylan longe da figura emburrada que muitos veem nele. Pelo contrário, pareceu comovido, na medida do possível."