"Sanguessuga", "cão raivoso particular", "ladrão que ajuda ladrão" e por aí vai. Estes são alguns dos adjetivos nada amigáveis que ajudam a formar Tabuleiro, novo disco solo do músico e compositor Diego Lopes, também conhecido como integrante da banda Acústicos e Valvulados. Mas toda a raiva canalizada para o álbum parece ter ficado na música, pois o Diego que atende o telefone para falar a respeito do lançamento é um tranquilo e atencioso jovem senhor, recém convertido em pai.
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–Tabuleiro é um retrato da minha vida neste momento. Desde meu primeiro disco (Diego Lopes & Bebop, de 2013), cresci, amadureci, tive uma filha e me interessei por outros tipos de som. Todas essas influências confluíram neste novo trabalho – fala Lopes, saindo às vezes brevemente da ligação para distrair Cecília, a filha de um ano e um mês.
O compositor cita as canções Baby, Baby e Um Dia Inteiro como inspiradas diretamente na vida familiar que leva há alguns anos ao lado da mulher, Fernanda, e, mais recentemente, de Cecília. É claro que os adjetivos citados na primeira frases dessa reportagem não são endereçados a elas: são, na verdade, referência a um episódio vivido por Lopes em seu disco solo de estreia.
Diego Lopes & Bebop foi desclassificado do Prêmio Açorianos depois que uma reportagem de ZH apontou semelhanças entre canções do álbum com composições do músico americano Ben Folds. "Decidiram que eu não podia ser popular (...) sem ter a chance de me explicar", canta Lopes na nova faixa Sangue, que também conta com os versos "Li por aí que declararam guerra / Ao meu estilo de ser e cantar / Ouvi muita gente dizer tanta merda / Que agora é minha vez de falar".
– Recebi críticas muito fortes à época, e a música foi meu jeito de extravasar – explica o compositor. – Mas, apesar de alguma músicas refletirem esse fato, há uma universalidade nelas. São letras capazes de serem aplicadas a outras situações. Feitiço (que fala sobre um "sanguessuga" e um "cão raivoso particular"), por exemplo, pode ser tanto relacionada a isso como a uma história de amor ou algo assim.
Lopes afirma que seu primeiro trabalho foi "mal interpretado" à época, mas não se lamenta:
– O que importa é que serviu de combustível para fazer um novo disco.
Musicalmente, Tabuleiro tem timbres que remetem ao rock setentista, com faixas mais hards e algumas baladas, todas muita bem executadas. Todas as bases foram gravadas ao vivo com guitarra, baixo e bateria e depois complementadas ao poucos com outros instrumentos.
– Captar as bases ao vivo, com cada músico reagindo na hora ao que o outro tocava, foi um jeito de preservar certa espontaneidade. Sei que isso não é novidade, mas queria gravar um disco como meus ídolos gravavam. Meu objetivo, sobretudo, era fazer um disco que eu gostaria de ouvir – resume Lopes.