Em meio à instabilidade política que tem agitado o Brasil nos últimos anos, uma categoria de personagens entrou em cena: os defensores da volta da ditadura militar. É nesse ato que aparecem os heróis da história, as testemunhas oculares dos anos de chumbo. Entre eles, estão quatro dos mais reconhecidos escritores do país, que se reúnem em Porto Alegre nesta sexta (26), às 19h30min, para uma mesa-redonda no Teatro do Centro Histórico-Cultural da Santa Casa. São Antônio Torres, Ignácio de Loyola Brandão, Luis Fernando Verissimo e Zuenir Ventura.
O que fica da obra de Moacyr Scliar
Livro reúne crônicas de Scliar sobre judaísmo
80 anos de nascimento serão comemorados em 2017
O motivo do encontro, que terá mediação do colunista de Zero Hora Tulio Milman, não poderia ser mais nobre: reverenciar os 80 anos de nascimento de Moacyr Scliar (1937 – 2011). Os quatro grandes contarão histórias sobre o amigo e debaterão a importância da memória, em seus diferentes sentidos. Quer dizer, isso é o que está no script. O que acontecerá de fato ninguém poderá prever.
– Do jeito que está a situação do país, acho que o que menos se falará será sobre literatura – aposta Verissimo.
Nas entrevistas concedidas por e-mail, foi unânime entre eles a perplexidade com os pedidos pela volta da ditadura. Loyola acredita que estes "não sofreram, não a viveram, não viram o horror, a tortura, o medo":
– Fomos uma geração que viveu um período tenebroso da história e sobreviveu.
Torres acrescenta que os quatro também recordarão momentos, alguns deles divertidos, da longa convivência literária com Scliar:
– É de Moacyr Scliar que vamos falar, contar histórias, puxar memórias, com saudade, mas sem prescindirmos do humor com que ele tanto impregnou sua escrita e as suas conversas. Afinal, rir não é o melhor remédio?
E se é de boas histórias que vive a literatura, por que não ouvir uma de Zuenir? É ele quem conta, a respeito da popularidade do centauro do Bom Fim:
– Pude observar essa aceitação geral (à obra de Scliar) numa viagem com ele a Teresina. Depois de sua palestra para uns 300 professores e estudantes, na hora dos debates, as perguntas revelavam impressionantes conhecimento e afinidade daqueles leitores tão distantes geográfica e culturalmente. Brinquei com ele que aquela plateia não era de piauienses, mas de gaúchos.
Loyola lembra que Scliar foi um entusiasta das viagens literárias que oportunizam o encontro de escritores com leitores, modalidade de projeto comum hoje mas que, no passado, foi motivo de resistência de alguns por considerarem uma mostra de "exibicionismo" dos autores:
– Encontrei-me com Scliar em uma Feira de Bento Gonçalves, quando tomei chimarrão pela primeira vez. Comentamos que aquilo era uma maneira de formar leitor, agarrá-los um a um, no corpo a corpo, segundo frase do João Antônio.
Contemplando a extensão da obra de Scliar e a diversidade de gêneros literários praticada, Verissimo acredita que ele foi um escritor tão prolífico porque nunca perdeu sua "fascinação infantil pelo livro, pelas histórias":
– Ele quis encher o mundo de histórias como as que o encantavam na infância, como se fosse uma missão. Escreveu aos borbotões, mas sempre com qualidade, com um texto preciso e bem pensado, mesmo quando delirava.
SCLIAR A QUATRO VOZES
Nesta sexta (26), às 19h30min.
Teatro do Centro Histórico-Cultural da Santa Casa (Independência, 75), fone (51) 3214-8255, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 30, à venda no local, uma hora antes do evento.