A relação entre a canção e a literatura foi tema de bate-papo entre o repórter de Zero Hora Alexandre Lucchese e o professor Luís Augusto Fischer nesta segunda-feira, em mais uma edição do Encontro com os Colunistas. Promovido pelo Grupo RBS, o painel foi mediado pelo jornalista Roger Lerina e realizado no Auditório Barbosa Lessa do Centro Cultural CEEE – Erico Verissimo, dentro da programação da 62ª Feira do Livro de Porto de Alegre.
Ambos os participantes do bate-papo lançaram livros relacionados à música em setembro: Fischer com O alcance da canção, uma seleção de artigos sobre composição e organizado em parceria com Guto Leite, e Luchesse com a biografia Infinita Highway – Uma carona com os Engenheiros do Hawaii.
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Após apresentar a sua obra, o professor destacou o Prêmio Nobel de Literatura concedido a Bob Dylan neste ano, ressaltando que a canção possui relação intrínseca com a linguagem escrita.
– Todo mundo da minha geração usou a música em aula de poesia. A canção é literatura. Sem letra, a música pode não significar nada – apontou Fischer.
Na época do anúncio da premiação de Dylan, houve quem criticasse a consagração do cantor:
– Eu lia comentários no Facebook como "agora só falta a Eguinha Pocotó também ganhar um Nobel, quem sabe a Anitta". No entanto, o gênero canção não é responsável por tudo que é produzido – explicou Fischer.
A relutância de Dylan em aceitar o Nobel foi refletida por Lucchese, que destacou o peso que poderia ter para o cantor uma premiação que o consagra como poeta.
– É vantagem para o compositor não ser levado tanto a sério, até para não criar muita expectativa – disse.
Autor da biografia dos Engenheiros do Hawaii, o repórter apontou que a banda se diferenciava dos outros grupos do Estado dos anos 1980 por possuir uma grande bagagem literária em suas letras.
– A banda possuía uma cultura livresca mais desenvolvida, mas era criticada injustamente por isso. Falavam algo como "Pô, o Humberto Gessinger (vocalista do grupo) fica lendo esses livros só para buscar citações". Mas, quando o público ouvia a canção transvestida de rock dos Engenheiros, identificava-se de maneira genuína – sublinhou Luchesse, que ainda indicou que as bandas que mais perduram no rock brasileiro foram aquelas identificadas com a canção, como Legião Urbana e Paralamas do Sucesso.
Segundo Fischer, ao lado da telenovela, a canção é a forma literária do país que deu certo.
– A formação lírica do brasileiro é pela canção – concluiu.