Caco Coelho se define como um "rodrigueano doente". Mergulhou na obra de Nelson Rodrigues, editou oito livros sobre o escritor pernambucano e se envolveu em pelo menos 20 montagens de seus textos ao longo da carreira. Mas, em quase 40 anos de trajetória artística, ainda faltava dedicar-se a uma das peças mais densas do autor, expoente de suas produções psicológicas: a Valsa nº 6, que chegou aos palcos em 1951. O único monólogo do grande dramaturgo ganha nova montagem sob o título Valsa #6. A temporada se inicia nesta quarta-feira, no Instituto Ling, com sessões sempre às 20h30min.
A intervenção no título da peça indica a polifonia existente no texto de Nelson Rodrigues. Apesar de contar com apenas uma atriz no palco – Gisela Sparremberger, que chamou a atenção do diretor por sua atuação na montagem recente Perto do Fim, sobre Sylvia Plath –, o eco de diferentes vozes preenche o espaço cênico.
– Fazemos uma ponte, cravamos a diversidade. É a pluralidade que está ali. A Valsa nº6, composta por Chopin, levava Nelson ao êxtase. Resgatamos o sensorial – explica o diretor, que também esteve, nos últimos anos, à frente de A Mulher sem Pecado (2010), montada no Rio Grande do Sul, e Vestido de Noiva (2012), no Rio de Janeiro.
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No palco, Gisele vive Sônia, uma menina morta aos 15 anos. Devaneios, fragmentos da vida passada e um mix de sentimentos vêm à tona. A garota tenta recuperar sua história perdida, incorporando figuras de referência, o que acaba por revelar uma trama complexa calcada em privações, desejos e expectativas.
– Entendo que a obra do Nelson tem um sentido repleto de brasilidade. Neste momento em que vivemos a maior agrura ética, o maior desespero humano, entendo que a minha contribuição como artista é trazer essa essência poética – justifica Coelho. – É um brado de brasilidade. Onde foi que nos desatamos? Quando nos desmanchamos como sociedade? Precisamos reconhecer o outro. A obra detona uma gama de emoções, é dilacerante.
O ambiente teatral remete à assepsia da morte e chama também o público para o jogo cênico – a plateia será vestida com macacões brancos durante as apresentações. A direção de arte do espetáculo é de Vicente Saldanha, com iluminação de Guto Greca e figurinos de Marco Tarragô. Para a trilha sonora, Pedrinho Figueiredo explorou as possibilidades do piano, já que a peça faz referência à obra de Chopin. A temporada seguirá até o dia 6 de maio.
VALSA #6
Quarta e quinta-feira, às 20h30min.
A temporada seguirá com sessões nos dias 18, 19 e 20 de abril e 2, 3, 4, 5 e 6 de maio. As apresentações ocorrem sempre às 20h30min. Nos dias 5 e 6 de maio, haverá sessões extras às 18h.
Instituto Ling (Rua João Caetano, 440, Bairro Três Figueiras).
A peça: Montagem do texto Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues, com direção de Caco Coelho.
Ingressos: R$ 40.