O ator Otávio Müller conta que foi uma pequena epopeia a criação do monólogo A vida sexual da mulher feia, baseado no livro homônimo da escritora Claudia Tajes. A peça tem sessão única em Porto Alegre neste sábado (2/6), às 21h, no Teatro do Bourbon Country (a segunda apresentação, prevista para domingo, foi cancelada).
– Iria dirigir a Heloísa Périssé nessa peça, mas vi que ia ser difícil ela sair do (espetáculo) Cócegas. Então, pedi para ela me dirigir, mas ela não conseguiu. Acabei dirigindo a mim mesmo, ensaiando na sala da minha casa – lembra o ator. – Amei o livro de cara. Em dado momento, pensei: "Eu sou a mulher feia!".
Conhecido como o Djalma da série Tapas & beijos, Müller se veste de mulher no palco para incorporar Maricleide, narrando os momentos mais marcantes da vida afetiva da personagem esteticamente desfavorecida. O ator afirma que os homens também se identificam com a história:
– Faço esse espetáculo há dois anos e meio e gosto que a plateia se manifeste durante a sessão. Certa vez, um espectador estava bastante irrequieto. Eu disse: "Fala!". E ele: "Essa é a história da minha vida". Convidei-o para subir no palco e terminamos o espetáculo juntos. Embora seja uma comédia, há pitadas de emoção.
A peça é mais ágil, diz autora do livro
Durante o processo de construção do trabalho, Müller se tornou amigo de Claudia Tajes e estabeleceu um diálogo profícuo com a autora. Sobre as diferenças e semelhanças entre o livro e a peça, Claudia compara:
– A peça é mais rápida, mais ágil. As piadas são feitas para o teatro mesmo, sem as divagações mais tragicômicas que a personagem tem no livro. Mas o resultado final é bem parecido: a gente ri, mas se incomoda com as desditas da mulher que, de tanto ser tratada como feia, acaba se sentindo o próprio cão chupando manga.
Claudia não se envolveu no processo diário de criação porque a adaptação do texto coube a Julia Spadaccini, apontada como um dos grandes nomes da dramaturgia brasileira hoje. Em 2014, Julia concorreu ao Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro na categoria de melhor autor com dois trabalhos: Aos domingos e A porta da frente. Ganhou com o segundo. Müller se aproximou de Julia quando ela foi trabalhar como um dos roteiristas de Tapas & beijos. Ele conta:
– Construímos juntos as cenas de A vida sexual da mulher feia. Ela ia aos ensaios de dois em dois dias ou de três em três. Precisei da parceria de uma mulher, senão poderia descambar para o machismo.
No entanto, Müller prefere não analisar os potenciais significados da obra:
– Não tenho essa complexidade na minha cabeça. Para mim, ela é feia, tem uma visão bem-humorada da vida e vai à luta. Nas entrelinhas, falo de um monte de coisas que prefiro que o público conclua. Minha visão é aberta, livre, sem censura e sem preconceito.
A VIDA SEXUAL DA MULHER FEIA
Sábado (2/6), às 21h. Classificação: 14 anos.
Teatro do Bourbon Country (Avenida Túlio de Rose, 80), fone (51) 3375-3700, em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 60 (galerias), R$ 80 (mezanino), R$ 120 (plateia alta) e R$ 140 (plateia baixa e camarote).
À venda na bilheteria do teatro, neste sábado, das 10h até a hora da sessão, pelo call center 4003-1212 e pelo site ingressorapido.com.br.
Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante nos primeiros cem ingressos e 10% nos demais.