Ninguém Sai Vivo Daqui (2024), drama ficcional inspirado no livro-reportagem Holocausto Brasileiro (2013), escrito pela jornalista Daniela Arbex, chega aos cinemas nesta quinta-feira (11). A partir da obra literária, foram produzidos um documentário, uma série, e agora, um filme de ficção. Dirigido por André Ristum, o longa-metragem é uma adaptação cinematográfica dos 10 episódios da série Colônia (2021), original do Canal Brasil e do Globoplay.
Ambas produções dão enfoque à história de Elisa, interpretada pela atriz Fernanda Marques, uma jovem que engravida antes do casamento e é internada à força em um manicômio no interior de Minas Gerais. Como muitos, torna-se vítima da injustiça de não poder escolher seu próprio destino. A escolha por cenas em preto e branco simboliza a "falta de cor" da vida dos residentes da instituição.
Maus-tratos em hospital psiquiátrico
A trama de Elisa é ficcional, mas baseada em fatos reais ocorridos durante os anos de 1903 e 1980, nos quais milhares de pessoas foram internadas à força, com aval do Estado e de familiares, no Centro Psiquiátrico Hospitalar de Barbacena, em Minas Gerais — mais conhecido como Colônia. A história da instituição é muitas vezes comparada a um genocídio (por isso o título do livro de Daniela Arbex, Holocausto Brasileiro), uma vez que mais de 60 mil pessoas morreram no local vítimas de métodos inadequados de tratamento psíquico, como terapias de choque e abusos físicos e psicológicos.
Entre as vítimas, além de pessoas diagnosticadas com transtornos mentais, estavam homossexuais, mães solteiras, mulheres que engravidaram antes do casamento e pessoas em situação de rua. Todos os que eram considerados como "indesejáveis" pela sociedade da época.
Série que virou filme
Em dezembro de 2023, o diretor André Ristum falou ao Correio Braziliense que os projetos audiovisuais (série e filme) "nasceram ao mesmo tempo", mas têm diferentes "desenhos narrativos", acrescentando que há "materiais que foram rodados apenas para o filme". Ele explicou, também, que a série foi bem recebida pela audiência, mas era limitada à televisão por assinatura. Dessa forma, objetivo de lançar um produto cinematográfico é que mais pessoas possam acessar a história.
Daniela Arbex participou da adaptação em conjunto com os roteiristas Rita Glória Curvo, de Macabro (2019), e Marco Dutra, de As Boas Maneiras (2017). Em entrevista ao Pioneiro, em outubro de 2023, quando participou da 39º Feira do Livro de Caxias do Sul, a autora disse que o objetivo de seu trabalho "não é falar sobre tragédia, mas destacar as omissões que causam tragédias". Em Holocausto Brasileiro, escolheu chamar atenção para o movimento antimanicomial.
Com Andreia Horta, de Elis (2016), e Rejane Faria, de Marte Um (2022), no elenco do longa, a segunda temporada de Colônia foi confirmada pela revista Variety em entrevista com os produtores Caio e Fabiano Gullane no mês passado.