Correção: as cidades de Hiroshima e Nagasaki ficam no Japão, e não na China, conforme publicado entre as 14h55min e as 23h do dia 18 de julho de 2023. O texto já foi corrigido.
As buscas pelo nome do químico e físico teórico norte-americano J. Robert Oppenheimer têm aumentado devido à divulgação do longa Oppenheimer, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20). O filme, protagonizado pelo ator Cillian Murphy e com direção de Christopher Nolan, abordará aspectos da vida pessoal e o papel desempenhado por ele durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O cientista liderou o Projeto Manhattan — criado pelos Estados Unidos com o objetivo de desenvolver bombas atômicas — e foi um dos principais artífices para a criação da poderosa arma nuclear.
O conhecimento científico de Oppenheimer e seu senso de liderança se destacaram na época da guerra e ele é até hoje lembrado por seus feitos. Mencionado em livros, palestras e até em filmes, o físico marcou seu nome na história mundial.
Quem foi Oppenheimer
Julius Robert Oppenheimer, filho de um casal de imigrantes judeus de origem alemã que fizeram fortuna no setor têxtil, nasceu em 22 de abril de 1904 em Nova York, nos Estados Unidos.
Conhecido por ser inquieto e com grandes habilidades acadêmicas, Oppenheimer demonstrava desde a juventude a aptidão pela ciência e pelas artes. Os primeiros anos de formação dele foram na Ethical Culture Fieldston School, em sua cidade natal.
Por ter saúde frágil, ele acabou ingressando com um ano de atraso no curso de Química da Universidade de Harvard. Na instituição de ensino, acabou se interessando principalmente pelas disciplinas de termodinâmica e física experimental. Oppenheimer se formou três anos depois, tendo recebido as mais altas distinções por seu desempenho acadêmico.
Após a conclusão do curso, o cientista continuou os estudos na Europa. Inicialmente, ele ingressou nos Laboratórios Cavendish, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que eram dirigidos pelo famoso físico Ernest Rutherford — responsável por propor um modelo atômico que rompeu com os padrões anteriores, ao considerar que o átomo tinha um núcleo positivo envolto por uma região mais extensa, carregada por cargas negativas (elétrons).
Posteriormente, Oppenheimer decidiu focar a carreira na física teórica. Para isso, optou por ingressar na Universidade de Göttingen, na Alemanha, que na época era uma dos centros de ensino mais reconhecidos da Europa em sua área de interesse. Na instituição, conheceu figuras importantes como os físicos Niels Bohr e Paul Dirac. O primeiro teve um papel importante ao propor um modelo atômico que considerava que os elétrons estavam distribuídos em camadas ao redor do núcleo e se moviam em sentidos circulares. O segundo descobriu uma partícula semelhante ao elétron, mas com carga positiva (próton).
Ainda na universidade alemã, ao lado de especialistas da área, Oppenheimer teve importantes contribuições para o ramo da física quântica, que na época ainda era recente. Aos 22 anos, ele concluiu o doutorado.
O físico então voltou aos Estados Unidos e iniciou, em 1927, a carreira como docente na Universidade de Harvard. Um ano mais tarde, ele ingressou como professor no Instituto Tecnológico da Califórnia (Caltech) e na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Nessas instituições de ensino, ele desenvolveu importantes pesquisas sobre processos energéticos de partículas subatômicas, raios cósmicos, buracos negros, teoria quântica de campo e espectroscopia. Um de seus trabalhos mais notáveis foi a Aproximação de Born-Oppenheimer, desenvolvido em parceria com Max Born, que simplifica o cálculo matemático de moléculas a partir da separação dos movimentos nuclear e eletrônico.
Segunda Guerra Mundial e Projeto Manhattan
Em 1937, Oppenheimer herdou uma fortuna, que recebeu após a morte do pai. Influenciado pelo comunismo, ele destinou parte do dinheiro para uma facção republicana da Guerra Civil Espanhola. No entanto, quando colegas de profissão russos foram enviados a campos de trabalho forçado — sharashkas, que eram laboratórios dentro dos gulags — ele decidiu abandonar os ideais políticos.
Com o início da Segunda Guerra Mundial e a invasão alemã à Polônia, em 1939, os países adversários da Alemanha somaram esforços para a criação de uma poderosa arma nuclear que pudesse ser utilizada contra os nazistas. Assim, em 1942, Oppenheimer foi recrutado para liderar o Projeto Manhatan, uma iniciativa conjunta entre Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, que tinha como objetivo desenvolver a bomba atômica.
Ainda no início do projeto, o cientista se tornou diretor do Laboratório Nacional de Los Alamos, no Estado do Novo México, e coordenou uma equipe de cientistas e engenheiros para a criação da primeira bomba atômica. O projeto resultou em um teste bem-sucedido da primeira bomba atômica, apelidada de Trinity, em 1945. Com isso, Oppenheimer ficou conhecido como o "pai da bomba atômica".
Arrependimento, ativismo e morte
Quando os Estados Unidos bombardearam, em agosto de 1945, as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, o físico demonstrou arrependimento e preocupação em relação ao uso da bomba atômica e se tornou defensor do controle internacional de armas nucleares.
Devido ao ativismo contra as ações de guerra, o governo começou a investigar o passado de Oppenheimer. Ele foi acusado de deslealdade e de representar perigo ao país. Por conta disso, foi revogada a autorização de segurança dele e o físico perdeu suas conexões com o governo.
Oppenheimer continuou lecionando e realizando pesquisas na Universidade de Princeton, em Nova Jersey, até a aposentadoria, em 1966. Em 18 de fevereiro de 1967, o cientista morreu em decorrência de complicações de um câncer de garganta.