Um dos mais aclamados cineastas do mundo, Jean-Luc Godard morreu nesta terça-feira (13), aos 91 anos. Considerado o pioneiro da Nouvelle Vague, a "nova onda" do cinema francês nos anos 1960, o diretor introduziu um novo estilo de filmagem, redefinindo as normas de câmera — mais portáteis e com mais movimento —, som e narrativa, além de cortes e diálogos existenciais.
Ao longo de 70 anos de carreira, o francês realizou mais de 40 longas-metragens, além de curtas, documentários experimentais, ensaios cinematográficos e vídeos de música. Entre essas produções, três entraram para a história do cinema: Acossado, O Desprezo e O Demônio das Onze Horas, todos eles filmados nos anos 1960. Relembre as três obras:
Acossado (1960)
Primeiro longa-metragem de Godard e rodado com um orçamento muito baixo, Acossado segue o itinerário de um ladrão mesquinho (Jean-Paul Belmondo) que acaba de roubar um carro e matar um policial. Perseguido pela polícia, ele tenta convencer sua namorada americana (Jean Seberg) a ir para a Itália.
— Uma experiência louca: não havia luzes, nem maquiagem, nem som (profissional) —lembrou Jean Seberg anos depois. — Mas era tão contrário à maneira de trabalhar em Hollywood que ficou muito natural.
O filme se tornou a bandeira Nouvelle Vague do cinema e foi uma verdadeira declaração dos princípios de Godard. Trata-se de um longa-metragem cheio de referências culturais, com uma montagem agitada, música repetitiva, bares, carros e hotéis.
O filme recebeu o prêmio Jean-Vigo em 1960. Godard ganhou o Urso de Prata no festival de Berlim naquele mesmo ano.
Acossado pode ser assistido pelo YouTube, mediante locação.
O Desprezo (1963)
Em O Desprezo, a mulher (Brigitte Bardot) de um roteirista (Michel Piccoli) se distancia de seu marido e confessa seu desprezo durante os preparativos de um filme, no qual o diretor de cinema Fritz Lang também participa, interpretando a si mesmo. O longa é uma adaptação de um romance de Alberto Moravia e se passa na Casa Malaparte, que o escritor Curzio Malaparte construiu às margens do Mediterrâneo, em Capri, na Itália.
O Desprezo é o sexto filme de Jean-Luc Godard e seu maior sucesso, em grande parte graças à carga erótica da estrela do momento, Brigitte Bardot.
Durante a gravação do longa, a atriz foi assediada pelos paparazzi. Os produtores queriam a todo custo que ela aparecesse nua, e Godard acabou cedendo. Adicionou ao filme uma sequência que se tornou outro ícone da história do cinema: Bardot, jogada na cama, pergunta ao seu marido sobre qual parte de seu corpo ele prefere.
— Você gosta do meu rosto? Da minha boca? Dos meus olhos? Do meu nariz? Das minhas orelhas?
O Demônio das Onze Horas (1965)
Godard dirige Anna Karina pela sexta vez em O Demônio das Onze Horas. Na época, o fenômeno da Nouvelle Vague já começava a declinar e o cineasta, mais livre do que nunca, decide gravar um filme de cores brilhantes, um verdadeiro festival de fogos de artifício.
Na trama, Pierrot (novamente Belmondo) é um homem que deixa tudo para trás para fugir com Marianne (Anna Karina), uma velha amiga com quem cruza novamente por acaso. O filme é um "road movie" em que se misturam tráfico de armas, grandes conversas sobre amor, tudo filmado com insolência, mesclando tomadas de grande angular e conversas surrealistas.
O filme foi proibido para os menores de 18 anos na França por "anarquismo intelectual e moral". Décadas depois, diretores como Quentin Tarantino e Leos Carax reconheceram a influência do filme sobre sua obra.
... e mais produções
Outros filmes de destaque de Jean-Luc Godard são O Pequeno Soldado (1963), Viver a Vida (1962), Alphaville (1965), Eu vos Saúdo, Maria (1984). Este último filme, uma visão moderna da virgindade de Maria, provocou polêmica em países católicos, que organizaram protestos em frente aos cinemas onde era exibido.