Chegando aos cinemas nesta quinta-feira (30), o filme gaúcho A Colmeia é um terror psicológico permeado pela tensão e angústia. O longa conta a história de um grupo de oito imigrantes alemães vivendo em uma casa isolada, em uma propriedade rural no Vale do Caí, nos anos 1940. Só que situações de fome e opressão passam a deteriorar a relação entre eles. É como se o colapso fosse iminente.
A Colmeia é dirigido por Gilson Vargas, responsável por produções como o filme Dromedário no Asfalto (2014) e a série Travessias (2020), que assina também o roteiro ao lado de Diones Camargo e Matheus Borges. Rodado em quatro municípios gaúchos — Maratá, Pareci Novo, Harmonia e Bom Princípio —, o filme foi vencedor do prêmio de melhor longa estrangeiro do Festival Internacional de Zaragoza e de cinco Kikitos na mostra gaúcha do 49º Festival de Cinema de Gramado (direção, ator para João Pedro Prates, fotografia, desenho de som e direção de arte).
O longa adapta uma montagem homônima escrita por Diones Camargo, também dirigida por Vargas, que foi apresentada na 6ª Festipoa Literária, no Museu de Arte Contemporânea do RS (MAC RS), em 2013. Porém, o elenco era outro, e a história ganhou novas camadas.
Em A Colmeia, o foco está nos gêmeos adolescentes Christoffer (João Pedro Prates) e Mayla (Andressa Matos). A irmã sonha em sair da colônia, enquanto o irmão se sente angustiado — ele sofre bullying na escola e tenta, secretamente, ajudar indígenas da região.
Os dois vivem com um grupo liderado por Werner (Rafael Franskowiak), que é o patriarca da casa. Trata-se de um homem que usa a imposição da força para tentar controlar o ambiente. Sua esposa, Bertha (Janaina Pelizzon), é o punho que o apoia. Kasper (Samuel Reginatto) e Uli (Martina Fröhlich) atuam como forças braçais nas atividades do grupo. A empregada da casa, Erika (Thais Petzhold), é uma figura etérea e próxima da representação de uma sacerdotisa, que cumpre a função de guardiã da casa. Já Lila (Renata de Lélis) possui uma compreensão maior do corpo — para ela, não é só servir ao trabalho, mas também pode ser instrumento de prazer.
Naquele tempo em que falar alemão era proibido por lei — determinação imposta pelo então presidente Getúlio Vargas durante o Estado Novo —, o grupo procura viver discretamente e passar despercebido. Contudo, eles têm dificuldade de se prover. Como já não bastasse a fome, os imigrantes enfrentam uma ameaça invisível pelos arredores da casa. São pessoas assustadas, que agem como fugitivas. Só que eles próprios passam a se oprimir entre si, o que acarreta uma escalada de violência que leva a desfechos sombrios.
— O grupo se desconstrói pelo medo. O medo é opressor e gera mais opressão. Os adultos acabam oprimindo os mais jovens — explica Vargas. — É um pouco o que a gente vive, e é também o que Paulo Freire falava sobre oprimidos virando opressores.
Desde o início, há uma nuvem de angústia e desconforto entre os moradores da casa. Em especial, saltam os olhares censores que os mais velhos lançam aos gêmeos. Cada gesto é ponderado e furtivo. Os diálogos são lacônicos, mas francos. A montagem de Gabriela Bervian, que também trabalha no desenho de som e na produção do filme, reforça a incomunicabilidade do grupo.
A sensação de que há uma bomba-relógio prestes a ser acionada impera em A Colmeia. Em 110 minutos, a tensão e o suspense envolvem a atmosfera do filme, remetendo ao cinema de gênero. Aliás, o diretor frisa que a narrativa trabalha com um terror mundano:
— Há algo que pressiona esse grupo, que a gente não sabe muito bem o que é. A ideia era colocar o espectador na perspectiva dos personagens.
Salas e horários
- Cine Grand Café 3 (18h30)
- Sala Eduardo Hirtz (14h30)
- Espaço Bourbon Country 2 (18h10)