Na 28ª edição do Festival de Gramado, em 2000, Paulo José – que morreu nesta quarta-feira (11), aos 84 anos – foi homenageado com o troféu Oscarito, distinção entregue a personalidades do cinema nacional. Na ocasião, o ator lembrou em entrevista a GZH a experiência no set de seu primeiro longa-metragem, O Padre e a Moça, de Joaquim Pedro de Andrade, filme polêmico no qual vive religioso que assume paróquia em cidade do interior mineiro e alimenta sentimento conflitante por uma jovem:
— Ele (Andrade) tentava evitar que os atores esboçassem o menor ricto facial, segundo os preceitos de direção de atores de Robert Bresson, seu professor no Idhec, a célebre escola de cinema francesa.
Dizendo-se inexpressivo no cinema, Paulo José destacava que investia mais na impressão do que na expressão:
— O ator não é uma representação, mas uma vivência.
Cinéfilo desde criança, ele, tão logo chegou a Porto Alegre, tornou-se frequentador das sessões dominicais do Clube de Cinema, fundado pelo referencial crítico Paulo Fontoura Gastal.
— Era fora das possibilidades, na época, pensar em fazer cinema em Porto Alegre, já que cinema é uma indústria e tentativas isoladas, como a de Vento Norte (longa gaúcho de Salomão Scliar, de 1951), evidenciavam muito mais a impossibilidade de fazer cinema. Os filmes eram experiências isoladas, dependentes do sacrifício pessoal de quem faz, iniciativas malucas, sem tradição e que quase ninguém via, o que torna os pioneiros muito solitários. Aprendemos muito com o Gastal, para quem o cinema era uma coisa importante, uma coisa séria.
Logo em seus primeiros trabalhos no cinema, Paulo José participou de títulos referenciais, como o já citado O Padre e a Moça (1966); Todas as Mulheres do Mundo (1966), de Domingos Oliveira, com quem também fez e Edu, Coração de Ouro (1968); As Amorosas (1968), de Walter Hugo Khouri; e Macunaíma (1969), também de Andrade. Em 1971, filmou no Rio Grande do Sul, com Dina Sfat, Gaudêncio, o Centauro dos Pampas, de Fernando Amaral.
Entre seus outros trabalhos importantes, estão Cassy Jones, o Magnífico Sedutor (1972), de Luiz Sérgio Person; O Rei da Noite (1975), de Hector Babenco; Faca de Dois Gumes (1989), de Murilo Salles; Dias Melhores Virão (1989), de Carlos Diegues; A Grande Arte (1991), de Walter Salles; Anahy de las Missiones (1997), de Sérgio Silva; Policarpo Quaresma, Herói do Brasil (1998), de Paulo Thiago; Benjamim (2003), de Monique Gardenberg; Saneamento Básico, o Filme (2007), de Jorge Furtado; A Festa da Menina Morta (2008), de Matheus Nachtergaele; Quincas Berro d'Água (2010), de Sérgio Machado; e O Palhaço (2011), sob a direção de Selton Mello. Já a cinebiografia Todos os Paulos do Mundo (2017) homenageia as seis décadas de carreira do artista, que também atuou na TV e no teatro.