Sonhos são poderosos, e Nina sente na pele o significado dessa frase. Aos 13 anos, ela enfrenta pesadelos diários com cenários e vilões obscuros em O Pergaminho Vermelho, primeira animação brasileira a entrar no catálogo do Disney+.
Com direção de Nelson Botter Jr, o desenho lançado nesta sexta-feira (6) faz praticamente um paralelo com os dias atuais, sobre a necessidade de sairmos mais fortes de situações difíceis. Nina é uma menina apaixonada por skate e, além de ter constantes pesadelos, lida com a possível separação dos pais. O que parece uma encruzilhada gera um desafio inusitado: ao encontrar um pergaminho em uma praça perto de casa, ela é transportada para Tellurian, o mundo paralelo dos sonhos.
Ao chegar lá, ela descobre que é a escolhida para enfrentar Lorde Dark, o senhor dos pesadelos, em jornada que será marcada por autoconhecimento e lutas contra criaturas mágicas e até furacões. Seria a pandemia vista de outras formas?
— Estamos vivendo esse extremo caos e temos que ter esperança para que a gente consiga chegar lá na frente, para ver que venceu. Por mais difícil que tenha sido, acabamos sobrevivendo, então é um paralelo que acaba existindo — concorda Botter Jr, em entrevista a GZH.
O diálogo com a situação pandêmica é uma grande coincidência, já que o longa levou 10 anos para ser produzido. Inicialmente previsto para ter o formato de série, o projeto virou uma animação após alguns estudos de formação.
Outra ligação com o presente está na relação de uma menina de 13 anos com o skate. Na semana passada, a brasileira Rayssa Leal, que tem a mesma idade de Nina, conquistou a medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio pelo esporte.
— É muito bom assistir ou ler alguma coisa que você possa se identificar e se ver naquilo, então ter uma personagem de tanta força e com o coração tão grande representando tantas meninas é muito bom — explica Any Gabrielly, do Now United, que dubla Idril, uma amiga de Nina no mundo de Tellurian.
Mundo mágico
Em um primeiro momento, Nina enfrenta um labirinto imenso, com ventanias constantes. Depois, um basilisco imenso surge à sua frente. As duas referências estão atreladas ao universo Harry Potter, uma das inspirações de O Pergaminho Vermelho. Elementos dos mundos de Star Wars, O Senhor dos Aneis e O Mágico de Oz também são perceptíveis no desenho de uma hora e meia de duração.
— Nós quisemos construir esse mundo dos sonhos a partir do consciente coletivo de crianças latino-americanas. São várias as fontes, mas a gente acabou, com as sessões-teste, coletando muito do que os pequenos querem ver na tela — completa Botter Jr.
Até mesmo o texto parece beber dessas referências adolescentes. Em uma das cenas, Lorde Dark solta a frase “esse castelo será meu”, lembrando o Doutor Abobrinha, de Castelo Rá-Tim-Bum. Um ancião, que ajuda Nina a encontrar o seu caminho para derrotar o vilão, tem dizeres semelhantes ao de Dumbledore, o diretor de Hogwarts, a escola de Potter no mundo de J.K. Rowling.
Consequentemente, as mensagens de todos estes expoentes culturais para adolescentes conversam diretamente com a animação brasileira.
— A gente cresce em uma sociedade em que temos que seguir pelo mais seguro, o mais fácil, e a gente acaba desistindo dos nossos verdadeiros sonhos. Viver o sonho é o que preenche o nosso coração, nos dá uma sensação de propósito, como visto em todas essas obras — reforça Any.