Um baita clichê do cinema hollywoodiano é reproduzido na primeira sequência de Army of the Dead: Invasão em Las Vegas. Logo após casarem em um cassino, dois jovens saem desgovernadamente com seu carro comemorando a união ao som da clássica canção Viva Las Vegas, célebre na voz de Elvis Presley. A ação impensada gera o surto coletivo que é tema do novo longa-metragem de Zack Snyder, estreia desta sexta-feira (21) na Netflix.
Os novos enlaçados acabam, sem querer, batendo em um carregamento militar que transportava um perigoso zumbi. A criatura acaba fugindo, e eis que o imaginado toma forma: os mortos-vivos passam a renascer e a tomar o mundo. A tragédia consegue ser contida após uma guerra com os humanos e, anos depois, os zumbis restantes acabam presos dentro de uma grande muralha construída ao redor de Vegas.
Absurdos à parte, o longa-metragem é uma nova chance de Snyder ao subgênero dedicado às criaturas tão amadas pela cultura pop. Após trabalhar um bom tempo com filmes de super-heróis — como Superman e Watchmen —, o cineasta se inspira em Madrugada dos Mortos, o primeiro longa-metragem de sua carreira, lançado em 2004, para montar seu novo projeto. Junto aos elementos daquele remake de Despertar dos Mortos, de George Romero, Snyder visualiza outras referências no longa, como Fuga de Nova York, Planeta dos Macacos e Alien.
— Eu meio que fiquei fascinado com as regras desses filmes e o que eles querem que o público aceite dentro dos seus clichês. Quando você faz um filme de zumbi, o quão longe o público vai com a gente nesses mundos? E foi assim que começou, (Army of the Dead) esteve conosco por anos na cabeça por essas provocações — explicou Snyder, em coletiva à imprensa por videoconferência no início de maio.
Desafios
A trama de Army of the Dead, que já seria inusitada até então, consegue ter outras nuances. Anos depois, um dos sobreviventes da recente guerra contra os mortos-vivos, Scott Ward (Dave Bautista), é abordado por um magnata dos cassinos, Bly Tanaka (Hiroyuki Sanada), para uma missão quase impossível: ele é convidado a invadir a cidade cheia de zumbis para roubar US$ 200 milhões (cerca de R$ 1,1 bilhão) de um cofre. Isso deve ser feito 32 horas antes de um bombardeio em Vegas, encomendado pelo governo, a fim de eliminar as pragas da Terra para sempre.
Por isso, ao longo de duas horas e meia de duração, o espectador assiste a uma batalha intensa de Ward e sua equipe contra as criaturas. Esse é um dos momentos em que Bautista, que vive o protagonista, pôde sentir a satisfação que é trabalhar ao lado de Snyder.
— Nós estávamos carregando armas, ele estava carregando uma câmera e parecia ser outro integrante do elenco. Isso foi muito, muito especial e reconfortante. Ter ele ali conosco, torrando sob o sol, ficando sujo com a gente, passando por esses desafios… Eu nunca experimentei isso em um filme antes — contou Bautista, na coletiva.
Família
O longa também se propõe a outras temáticas, além de violência e muito sangue na tela. Sem conhecimento prévio, Ward irá conviver com ninguém menos que sua filha, Kate (Ella Purnell), que entra para o grupo invasor em busca de uma amiga que ficou presa em Vegas. Assim, o líder tem uma chance de se reconectar com a jovem, já que os dois não tinham uma relação amistosa havia vários anos.
— Foi isso que me fez aceitar o projeto. Eu realmente queria uma oportunidade para mostrar um pouco de versatilidade, na verdade. Meu personagem no filme não é apenas um cara da ação, ele também é um cara que busca redenção. Para mim, Army of the Dead é uma história de redenção — reforçou Bautista.
No caso de Snyder, o filme também acaba sendo um marco em sua vida pessoal. A relação dos personagens é uma homenagem a Autumn, filha do cineasta que se suicidou em 2017. O diretor acredita que este seja o coração do longa-metragem.
— Todos os personagens são meio que as estrelas do filme. Seja Zeus, o Zumbi Alfa, tanto faz, mas eu estava muito interessado nas emoções deles, no que eles estavam sentindo, ou em Ward tentando se reconectar com sua filha. Ainda que você possa dizer sim, é um filme de assalto com zumbis, ele também é, no fim, um filme sobre amor — finalizou Snyder.