Cinema

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Documentário "Portuñol" mostra como as línguas portuguesa e espanhola se entrelaçam na fronteira

Premiado como melhor longa gaúcho no Festival de Cinema de Gramado de 2020, filme chega às plataformas de streaming

William Mansque

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Pedro Clézar / Divulgação
Música na fronteira entre Brasil e Uruguai, uma das regiões visitadas em "Portuñol"

Vencedor do kikito de melhor longa-metragem gaúcho no Festival de Cinema de Gramado de 2020, o documentário Portuñol chega às plataformas de streaming NOW, Oi Play e Vivo Play nesta quinta-feira (18). O filme apresenta como as línguas portuguesa e espanhola, às vezes o guarani também, entrelaçam-se nas fronteiras do Brasil com os países vizinhos, fazendo parte do dia a dia dos moradores das regiões. O documentário também reflete sobre o conceito de fronteira (leia glossário de termos do portunhol). 

Portuñol marca a estreia da cineasta Thais Fernandes na direção de um longa.  Entre outros trabalhos, ela dirigiu o curta-documentário Um Corpo Feminino (2016) — vencedor dos troféus Assembleia Legislativa de melhor roteiro e melhor filme no Festival de Gramado de 2018 — e a série documental Afinal, Quem É Deus? (2019). Seu segundo longa, que está sendo planejado, também será um documentário, no qual contará a história do cartunista Rafael Corrêa, misturando também ficção e animação. 

Entre 2017 e 2018, Thais e sua equipe viajaram até cidades brasileiras que fazem fronteira com Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai para Portuñol. Ela conversou com comerciantes, músicos (da cumbia uruguaia ao rap guarani), acadêmicos, jovens estudantes etc. De adolescentes a idosos. Os diálogos dos personagens do filme alternam entre o português, o espanhol e o guarani.

Thais trabalhou com produtores locais nessa busca de representantes que seriam interessantes para dialogar. Não houve pré-entrevista: ela chegava e conversava. Teve muita gente que a diretora encontrou pelo caminho, pelo acaso. 

— Eu não queria fazer um filme com figurões. Como, por exemplo, ir até o Rio falar com o Caetano sobre Soy Loco por Ti, América. A ideia era conversar com pessoas reais que vivem o portunhol no cotidiano, talvez sem pensar isso — explica a diretora. 

Thais conta que o argumento de Portuñol é de Jéssica Luz, que é a produtora-executiva do filme ao lado de Fabiano Florez e Mariana Mêmis Müller. Jéssica percebeu que a cineasta teria a cara do projeto, até por sua afinidade com assuntos da América Latina. Thais buscou no longa ir além do portunhol falado publicitariamente.

— As pessoas costumam achar que portunhol é falar espanhol ou português errado. Ao fazer o filme, percebi que o portunhol não é só essa brincadeira que a gente faz sobre falar erroneamente ou misturar coisas. É uma expressão cultural. Nas fronteiras, as pessoas têm orgulho de falar portunhol — diz.

Sendo uma língua oficial do Paraguai, o guarani também marca presença em Portuñol. Nos diálogos com personagens indígenas, é possível observar uma relação diferente com o espaço: fronteira é um conceito trazido pelos europeus. Para os indígenas, não existem essas linhas divisórias.

Ao longo de 70 minutos, Portuñol propõe a discussão sobre o que é fronteira e como ela é  definida para falar do portunhol. Para Thais, a grande mensagem do filme é talvez querer ressignificar essa ideia de fronteira como um lugar que separa:

— Aprendemos na escola que fronteira é lugar que tem uma linha, um muro, uma grade, de um lado é uma coisa, e do outro, diferente. No fim das contas, fronteira é um lugar de encontro. O filme encontra culturas no caminho que se misturam sem se renegar. É uma aula de como conviver com as diferenças sem anular outro. As pessoas têm orgulho dessa mistura, gostam da área cinza. Ainda sim, não renegam suas origens. Brasileiro é brasileiro, paraguaio é paraguaio, tem quem se considere brasiguaio. 


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