Os fãs desavisados de Homem de Ferro podem tomar o motorista de Tony Stark como apenas mais um dos alívios cômicos da produção. Jon Favreau, contudo, que nas telas do Universo Cinematográfico Marvel ficou conhecido como Happy Hogan, é muito mais do que isso.
Aos 54 anos, o ator, diretor, produtor — e ocasionalmente chef — é um dos nomes mais importantes da Disney. Um dos exemplos mais recentes de sua importância para a companhia é The Mandalorian, primeira série do serviço de streaming Disney+, que se tornou o carro-chefe do empreendimento, além de ter deixado sua marca na cultura pop com o surgimento de Baby Yoda.
Mesmo sendo a primeira série de Favreau para a televisão e a primeira live-action de Star Wars, a produção não teve dificuldade em se tornar um sucesso de crítica e público. No último Emmy, Mandalorian conquistou 15 indicações, incluindo a de melhor seriado dramático. No final, levou para casa cinco estatuetas técnicas, que entram para a história como os primeiros prêmios da Disney +.
Antes mesmo de tamanho sucesso, o trabalho de Favreau levou o CEO da companhia, Bob Iger, a compará-lo com George Lucas, o criador de Star Wars, em entrevista ao The Star Wars Show, publicada em dezembro de 2019.
— Nós temos muita fé em Jon. Tanto como um contador de histórias, mas também como um contador de histórias como George Lucas, que sabe como usar a tecnologia a favor de suas histórias.
A crença não foi nem um pouco injustificada. Há mais de uma década, afinal, Favreau é o garoto de ouro da companhia. E, de certa forma, sua relação com Mickey Mouse começou justamente em seus primeiros tempos como o motorista Happy. Mais do que um coadjuvante, ele foi o diretor do filme de 2008, que deu início a toda a epopeia da Marvel nos cinemas e a febre por super-heróis.
Herói na Marvel
Favreau reconhecidamente lutou com os executivos da Marvel Studios para colocar Robert Downey Jr. como o Homem de Ferro. À época, restava pouca fé em Hollywood com o ator, que apesar dos talentos com a atuação, ficou famoso graças aos excessos com drogas e bebidas alcoólicas. Mas foi justamente a trajetória e personalidades similares entre Downey Jr. e Tony Stark que convenceram o diretor que ele era a melhor escolha e, eventualmente, Favreau foi ouvido.
— Foi uma grande aposta se ele [Robert Downey Jr.] levaria o trabalho a sério ou não… E agora a história definitivamente provou que ele levou a sério. E ele é a maior estrela do mundo — declarou o cineasta ao programa de rádio 100.3 Jack FM.
E o elogio ao ator se encaixa perfeitamente ao próprio diretor, que apostou em Downey Jr., e foi responsável por uma das mais bem sucedidas franquias do cinema, tornando-se uma estrela ao seu próprio modo. Com Homem de Ferro, ele transformou um orçamento de US$ 140 milhões em uma bilheteria de US$ 585 milhões.
O sucesso fez com que Favreau voltasse para a direção de Homem de Ferro 2 e continuasse como Happy em outros filmes do universo de super-heróis. Como produtor executivo, ele aparece nos créditos de Homem de Ferro 3, Os Vingadores, Era de Ultron, Guerra Infinita e Ultimato. Kevin Feige, produtor principal das obras, já afirmou que o diretor não recebe créditos o suficiente por sua colaboração na Marvel.
Porque, mais do que o dinheiro, Favreau ditou o ritmo do restante do Universo Cinematográfico da Marvel, unindo humor, ação e carisma nos longas de super-heróis. O próprio Tony Stark se tornou uma espécie de coração da franquia, de forma que a despedida de Downey da produção após Ultimato é um dos grandes desafios no futuro do estúdio.
Garoto de Ouro
Mas a onda de sucessos de Favreau não se resumiu aos heróis. Depois de Homem de Ferro, o diretor conseguiu emplacar dois grandes sucessos na Disney antes de chegar a Mandalorian. E ambos foram na selva.
A começar por Mogli - O Menino Lobo, com um desempenho surpreendente nas bilheterias em 2016: foi a quinta maior arrecadação do ano (US$ 966,5 milhões), segundo o Box Office Mojo, ficando à frente de grandes apostas do ano, como Batman vs. Superman, Animais Fantásticos e Onde Habitam e Esquadrão Suicida.
No site especializado Rotten Tomatoes, em que Mogli soma uma aprovação de 94% dos críticos, é dito que o filme é um dos raros remakes da Disney em que a nova versão supera a animação original. Os críticos também avaliam que a produção "enquanto estabelece um novo padrão para CGI", um ponto fundamental para o futuro de Favreau.
Afinal, apenas três anos depois ele retornou aos cinemas como diretor de uma nova versão de O Rei Leão, clássica animação dos anos 1990 repaginada como um documentário da National Geografic. Tudo feito a partir dos avanços tecnológicos. E o público não poderia ter aprovado mais: a bilheteria mundial foi de US$ 1,6 bilhão — ficando atrás apenas de Vingadores: Ultimato, que tem a maior bilheteria da história.
A resposta da Favreau para tanto sucesso?
— Comecei como escritor e ator. Nunca soube que rumo minha carreira tomaria. Não fui para a escola de atuação ou cinema. Tudo o que sei foi de aprender no trabalho. Vejo minha carreira como o trabalho de um aprendiz — afirmou ao The New Paper.