Conhecido do grande público por novelas da Globo e imortalizado no papel de Zé do Burro de O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, o ator Leonardo Villar morreu nesta sexta-feira (3), aos 96 anos, depois de uma parada cardíaca. A informação foi confirmada por sua sobrinha, Tatiana Rocca.
Villar nasceu em Piracicaba, no interior de São Paulo, e começou a carreira no teatro na capital do Estado, no final dos anos 1940. Logo passou a integrar o elenco fixo do Teatro Brasileiro de Comédia, o TBC, onde brilhou em produções como Pedreira das Almas, ao lado de Fernanda Montenegro, e Um Panorama Visto da Ponte, de Arthur Miller, pela qual ganhou troféus da Associação Brasileira de Críticos Teatrais, a ABCT.
Foi no palco, aliás, que ele encarnou Zé do Burro pela primeira vez. Sua atuação rendeu a ele mais um prêmio da ABCT, além de um reconhecimento do governo paulista. Foi descrita pelo crítico Décio de Almeida Prado como dotada de "tocante veracidade e inocência", mas sem nada de "edulcorado ou de piegas".
Foi em 1962, no Festival de Cannes, porém, que sua versão do personagem ficou eternizada. Isso porque, desbancando clássicos modernos como O Anjo Exterminador, de Luis Buñuel, e O Eclipse, de Michelangelo Antonioni, o filme O Pagador de Promessas recebeu a única Palma de Ouro da história do cinema nacional.
Villar ainda participou de outros longas importantes da década, como Lampião, o Rei do Cangaço, de Carlos Coimbra, e A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de Roberto Santos. Sua entrada na televisão ocorreu na mesma época, com A Cor de Sua Pele, da TV Tupi — o ator fazia par romântico com a primeira protagonista de novela negra, Iolanda Braga.
Nas décadas seguintes, Villar participou de uma série de novelas, como Barriga de Aluguel, de 1990, Laços de Família, de 2000, e Coração de Estudante, de 2002. Também atuou em filmes como Brava Gente Brasileira, de Lúcia Murat, em 2000, e Chega de Saudade, de Laís Bodanzky, em 2007.
Seu último papel foi em Passione, exibida em 2010 e 2011 pela Globo. Então com quase 90 anos, ele se envolvia num inesperado triângulo amoroso da terceira idade ao reencontrar a personagem de Aracy Balabanian, por quem tinha se apaixonado na juventude, cinco décadas depois.
Na vida real, no entanto, Villar nunca se casou, segundo a sobrinha Tatiana Rocca. Ela conta que ele passou os últimos 10 anos de vida em São Paulo, depois de muitas décadas no Rio de Janeiro. Ele deixa sobrinhos, sobrinhos-netos e sobrinhos-bisnetos.