Recebido com aplausos e gritinhos de empolgação, ovacionado pela plateia de pé na saída, o convidado desta segunda-feira (23/9) no Fronteiras do Pensamento parece ter não apenas admiradores em Porto Alegre, mas verdadeiros fãs. O cineasta alemão Werner Herzog teve uma recepção carinhosa do público no Salão de Atos da UFRGS, e retribuiu à altura — proferiu uma apresentação original e demonstrou disposição para responder a perguntas e compartilhar seu processo criativo.
Ao contrário da maioria dos conferencistas do Fronteiras, Herzog não chegou ao palco com um discurso pronto e ensaiado, mas preparou trechos de alguns de seus filmes para exibir e comentar. Alguns deles haviam sido gravados nos últimos meses e ainda eram inéditos, como imagens da cratera de um meteoro, registradas com um drone na Austrália.
Na fala inicial, ele destacou a importância da internet para viabilizar projetos alternativos de cinema, mas frisou o valor do contato direto com paisagens e pessoas na hora de desenvolver um filme.
— Para fazer um bom filme, arregaço as mangas e vou até os lugares, encontro as pessoas. É preciso ter uma mistura de humor, curiosidade e empatia, para estabelecer conexões rápidas com quem encontramos. São coisas que não há como ensinar em uma sala de aula ou em um estágio — afirmou o cineasta.
Questionado sobre a impulso para a originalidade de seus filmes, Herzog explicou que não conhecia o que era cinema até os 11 anos, já que cresceu em uma pequena comunidade isolada na Alemanha.
— Acho que por não ter crescido em contato com o cinema não ligo muito para o que os outros estão fazendo — disse. — Eu queria contar histórias por meio dos meus filmes, mas sabia que para isso eu teria que criar um novo cinema. Até hoje, o que eu faço é criar um novo cinema.
O diretor não deixou de se comparar com o mainstream da sétima arte.
— Eu conto histórias melhor que Hollywood — afirmou. — Hollywood sabe contar histórias, mas as histórias ficam soterrados sob camadas de explosões, ações e efeitos especiais. Não preciso de Hollywood. Nem ela precisa de mim.
Amazônia
Algumas das perguntas endereçadas ao cineasta tratavam da Amazônia, uma vez que seu clássico Fitzcarraldo (1982) foi dirigido na floresta. Ao responder, Herzog evitou fazer uma defesa inflexível da área florestal:
— Sou alemão. Meu país destruiu suas florestas para ocupar com pecuária e agricultura. Ninguém de fora pode impor o que o Brasil deve fazer com a Amazônia — afirmou, recebendo aplausos do público. — É claro que sou a favor da preservação ambiental, mas também compreendo que haja pessoas sem terra querendo espaço para cultivar — ponderou.
Ainda sobre o meio ambiente, o cineasta afirmou que admira a ação de jovens que protestam por políticas de preservação, mas pontuou que acredita mais em ações individuais do que em acordos governamentais. Nesse sentido, lembrou que, segundo pesquisas, países desenvolvidos descartam como lixo quase metade dos alimentos que levam para casa.
— Ao saber disso, comecei a limpar minha geladeira. Às vezes jogo fora uma salada que está lá há alguns dias e estragou. Mas isso deve ser 3% ou 4% do que eu consumi, e não 50%. Antes de ficar esperando que o governo assine acordos, cada cidadão pode fazer algo para aproveitar melhor nossos recursos — concluiu, sob aplausos, é claro.
O Fronteiras do Pensamento Porto Alegre é apresentado por Braskem, com patrocínio de Unimed Porto Alegre e Hospital Moinhos de Vento, parceria cultural PUCRS, e empresas parceiras Unicred e CMPC. Universidade parceira UFRGS e promoção Grupo RBS.
Próximos convidados
Conferências sempre às segundas-feiras, às 19h45min. No dia 21 de outubro, o evento ocorre no Salão de Atos da PUCRS, mas retorna ao Salão de Atos da UFRGS para a última palestra do ano. Os ingressos já estão estão esgotados. É possível se inscrever em lista de espera acessando este link.