Marcada para 20 de novembro, quando se comemora o dia da Consciência Negra, a estreia de Marighella, cinebiografia do guerrilheiro comunista dirigida por Wagner Moura, foi cancelada por seus produtores.
A informação foi divulgada em nota enviada à imprensa nesta quinta-feira (12). Nela, os produtores dizem que "a O2 Filmes não conseguiu cumprir a tempo todos os trâmites exigidos pela Agência Nacional do Cinema (Ancine)".
Segundo a assessoria de imprensa do longa, o cancelamento é resultado da negação de um recurso encaminhado pela O2 Filmes à Ancine no final de agosto. Nele, a produtora questionava se a verba para a comercialização da obra poderia ser liberada antes da assinatura efetiva do contrato com o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), uma vez que ele estava demorando a ser finalizado.
Na mesma ocasião, a produtora teve outro recurso negado, referente a um pedido de ressarcimento de despesas pagas com dinheiro próprio no valor de mais de R$ 1 milhão, por meio do FSA. Em nota, a O2 afirmou que apenas pediu que a Ancine esclarecesse se essa quantia se adequava a um edital de complementação do FSA, o que foi negado pela diretoria da agência.
Na época, a negação de ambos os recursos foi comemorada por Carlos Bolsonaro, filho do meio do presidente. No Twitter, ele escreveu: "Noutros tempos, o desfecho seria outro, certamente com prejuízo aos cofres públicos".
A declaração de Carlos Bolsonaro aconteceu em um momento em que o governo busca estabelecer mais controle sobre a Ancine. O presidente inclusive afirmou que pretendia extinguir a agência caso não pudesse implantar um "filtro de conteúdo" —intenção encarada como censura pelo setor.
Nesta quarta (11), Bolsonaro iniciou outra ofensiva à agência, ao apresentar no Poder Legislativo um projeto de lei que prevê, em 2020, um corte de quase 43% do orçamento do FSA, para R$ 415,3 milhões. Seria a menor dotação nominal para o fundo desde 2012, quando ele recebeu R$ 112,36 milhões.
Marighella estreou sob aplausos no Festival de Berlim, em fevereiro deste ano. Inspirada na biografia escrita pelo jornalista Mário Magalhães, a produção de R$ 10 milhões acompanha os últimos cinco anos de vida do guerrilheiro, do golpe militar de 1964 ao seu assassinato, em 1969.