Um homem que deixara tudo para trás para trabalhar como voluntário na Índia vê o orfanato que coordena à beira da falência. Um dia, um empresário se oferece para financiar o lugar. A única condição é que o homem apresente o projeto pessoalmente. Ao chegar lá, reencontra um grande amor do passado — hoje, esposa do ricaço que o convidou.
A trama descrita acima pertence a Depois do Casamento, longa dinamarquês assinado por Susanne Bier e indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2007. Troque os gêneros dos personagens e o resultado é o remake homônimo que estreia nesta quinta (19), agora com direção do norte-americano Bart Freundlich.
Na versão hollywoodiana, o idealista taciturno antes vivido por Mads Mikkelsen (da série Hannibal) vira Isabel, papel de Michelle Williams. É ela que é intimada a viajar a Nova York por Theresa, magnata das novas mídias interpretada por Julianne Moore.
Theresa tem a vida perfeita. Além de bancar os luxos da família, também é uma esposa apaixonada pelo marido Oscar, um artista plástico, e mãe dedicada aos dois filhos e a enteada Grace — é dela o casamento que batiza o filme.
É a segunda vez que Moore protagoniza um remake de um filme estrangeiro só neste ano. Em março, ela encarnou o papel-título de Gloria Bell, refilmagem do longa chileno Glória, de 2013.
Para o diretor Bart Freundlich, marido e colaborador habitual de Moore, a onda de refilmagens não é motivada por uma carência de roteiros originais na Hollywood de hoje, mas por uma "expansão de horizontes" mais ampla da indústria.
— Estamos nos deparamos com histórias que talvez não parecessem comercialmente viáveis antes.
[Assista ao trailer de Depois do Casamento]
Ele afirma, no entanto, que prefere pensar em Depois do Casamento menos como um remake e mais como uma releitura, já que as mudanças inauguradas com as trocas de gênero dos personagens principais trouxeram novidades significativas para a narrativa.
Uma delas é a superposição de uma camada feminista ao original dinamarquês, já que a protagonista passa a ser uma mulher bem-sucedida na carreira e na família.
— Só de não fazer disso o foco da história já é um grande progresso — opina Freundlich.
O diretor acrescenta que a própria adaptação do roteiro o ajudou a entender o machismo estrutural da indústria.
— Percebi como os homens costumam ter mais acesso a papéis complexos, tridimensionais.
A segunda — e aí vem spoiler — é uma saída um tanto rocambolesca para uma trama que, desde o original, já tinha ingredientes de melodrama. Na história dinamarquesa, o protagonista descobre que a mulher do empresário é uma antiga namorada, e que a jovem que há pouco vira subir no altar é, na verdade, sua filha.
Mas uma coisa é um homem desconhecer o fato de que é pai. Uma mulher que ignora ser mãe é uma situação, no mínimo, pouco verossímil. A solução de Freundlich para a encruzilhada é mais plausível, mas ainda assim confusa.
Não que o diretor, que acumula comédias românticas no currículo, não goste de um bom melodrama. Ele conta que, em tempos de franquias de super-heróis, tem certa nostalgia dos representantes do gênero que foram filões nos anos 1980, como Laços de Ternura e Gente como a Gente.
— Nos meus filmes, não há heróis ou vilões, apenas pessoas que tomaram decisões cujas consequências são reveladas em cena.