Em uma das cenas finais de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, que entra em cartaz nesta quinta-feira (15) em todo o Brasil – mas já pode ser visto nesta terça nos cinemas em sessões de pré-estreia –, o protagonista Newt Scamander (Eddie Redmayne) abraça seu irmão Theseus após uma batalha que dá claridade à divisão que o mundo bruxo vai enfrentar nos anos seguintes.
— Eu escolhi o meu lado – diz Scamander, em meio ao momento de tensão.
A fala pontua o sentimento que este segundo filme do prólogo da saga Harry Potter deixa no espectador. O ano é 1927, o mundo mágico sofre os dilemas de ver suas complexidades expostas ao mundo dos “trouxas” (quem não é bruxo), e Grindelwald (Johnny Depp), um mago das trevas, escapa da prisão com a ambição de dominar o mundo querendo a valorização dos “puros-sangues” (bruxos que não se misturam ou se casam com “trouxas”).
Os minutos iniciais de Animais Fantásticos 2 são frenéticos, de deixar os fãs do universo bruxo sem ar, com uma sequência de efeitos visuais surpreendentes. Até parece o prenúncio de que teremos um filme repleto de duelos, criaturas mágicas descontroladas e todo o ritmo que os oito filmes da série Harry Potter sustentou ao longo dos anos 2000.
Infelizmente, não é bem assim. Com a intenção de produzir cinco filmes ao todo, a roteirista J.K. Rowling (escritora britânica autora da saga Harry Potter) precisava de explicações. Esta é a premissa deste segundo capítulo de Animais Fantásticos: várias histórias secundárias são abertas, o que pode deixar os espectadores mais desatentos perdidos no correr da trama.
A atenção é fundamental para assistir ao longa-metragem, mas nada se perde. Todas as brechas são fechadas ao final das mais de duas horas de projeção.
Além disso, o protagonista Newt Scamander ganha um ar mais firme de protagonismo. Se no filme anterior tínhamos um bruxo atrapalhado, simples e sem muita complexidade, quase infantil, nesta sequência ele se impõe. Aliado de Alvo Dumbledore, diretor da escola de magia de Hogwarts na série de J.K. Rowling, Scamander se torna um Harry Potter da década de 1920.
Outro ponto que injeta fôlego a esse prequel – dirigido pelo mesmo David Yates que assinou os quatro últimos Harry Potter – é a mudança de território: Grindelwald foge para Paris, obrigando Scamander e seus escudeiros a partirem para a França e para iniciar uma perseguição no estilo gato e rato. A nova locação gera um clima de novidade para os fãs mais fervorosos da série original e aquece a curiosidade para o terceiro Animais Fantásticos: atores da produção já adiantaram que a continuação deve se passar no Brasil.
No entanto, há alguns aspectos negativos na trama. Frágil em suas poucas aparições, o vilão Grindelwald não provoca o mesmo medo que Lord Voldemort (Ralph Fiennes) causou na geração de fãs de Potter, embora ilustre o perigo que representa para os jovens bruxos. Em contraponto, seu opositor Dumbledore é consistente e ganhou força com a ótima atuação de Jude Law.
Com clima de Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte I, filme que deu início ao fim da saga do bruxinho amado por uma geração de jovens-adultos, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald pode ser visto como um antecipado aquecimento do fim da nova saga, gerando a expectativa de como o brilhantismo de J. K. Rowling conseguirá apresentar mais três longas-metragens com esses personagens nos próximos anos. É aguardar para ver o quanto a magia da autora ainda será capaz de surpreender.