Na noite da última quinta-feira (15), o Cine Victoria recebeu uma sessão especial de Pantera Negra. A produção da Marvel teve uma exibição direcionada à comunidade negra da Região Metropolitana, que lotou a sala do cinema. Intitulado CinePreto POA, o evento na capital gaúcha foi organizado por três amigas: Luciana Dornelles, Kenia Aquino e Flavia Lemos.
– O objetivo da sessão é proporcionar às pessoas negras de Porto Alegre e arredores a oportunidade de assistirem juntos a um filme que pra nós já está marcando história. Uma superprodução com elenco majoritariamente negro, e com um protagonista que, pela primeira vez nos cinemas, não é só um super-herói, mas também um rei africano – explica Luciana.
As organizadoras do evento contam, ainda, que a divulgação foi realizada somente pelo "boca a boca".
– Fizemos uma lista das pessoas interessadas que pagaram por meio de depósito. A ideia era formar uma corrente, misturar grupos. Chamamos representantes de alguns coletivos e oferecemos um numero X de ingressos. Criamos uma rede – relata Luciana.
Impressões do público
A organização do evento estima que 185 pessoas compareceram à sessão. Entre os presentes, estava Jordão Farias, 25 anos. O publicitário de Cachoeirinha destaca que mais de 90% do elenco de Pantera Negra era formado por atores negros.
– Isso é bem importante, ainda mais em um filme que teve um investimento tão grande, que vai ter uma repercussão enorme, e que muita gente vai assistir. Nos sentimos parte daquilo que estamos vendo na tela – destaca.
Para Cinara Ribeiro, 40 anos, a experiência valeu muito a pena. Para a porto-alegrense, Pantera Negra é um filme grandioso.
– Retrata uma história bem interessante de um personagem negro. Senti muita emoção ao ver um negro com um poder tão grande – disse Cina.
O fotógrafo Josemar Afrovulto, de Alvorada, salientou que ainda estava absorvendo o filme, mas, assim como Cinara, também se emocionou:
– Logo que apareceu a primeira cena de Wakanda (o local onde se passa a trama), fiquei muito feliz de ver aquele lugar. Ver homens e mulheres negras mostrando sua força. Me senti muito bem assistindo ao filme com outras pessoas pretas. Foi muito potente isso. Acho que até para o entendimento das piadas isso foi importante. Foi tudo muito alinhado.
Afrovulto também sublinhou sobre o tempo que esperou para ver um herói como o Pantera Negra:
– Tenho 31 anos. Tive que esperar 31 anos para ver um super-herói negro, rei de uma nação africana avançada. Fico pensando no reflexo que isso vai ter para a juventude que vai ver isso agora.
Cléber Pereira, de Viamão, e Kdoo Guerreiro, de Porto Alegre, debatiam sobre a reflexão histórica do filme após a sessão.
– Ele mostra uma perspectiva diferente até para quem estuda história. Como seria um país da África sem a colonização? Quem garante que o país não se desenvolveria? A gente começa a pensar de outra maneira – aponta Pereira, estagiário de T.I., 36 anos.
Guerreiro, que é empresário de 43 anos, concorda:
– Exatamente. A África é um continente riquíssimo, cheio de recursos naturais que podem prover muito bem a população africana e transformá-lo em um continente superdesenvolvido, mas isso não aconteceu por conta da exploração europeia e de outras invasões. Wakanda é o que a África seria se não tivesse sido invadida pelos europeus.
Do ponto de vista geek, Guerreiro também saiu de alma lavada. Ele classifica Pantera Negra como uma das melhores surpresas dos últimos anos entre os filmes de super-herói.
– Marvel sempre foi um universo cinematográfico que me supriu como fã de quadrinhos e como pessoa que consome essa arte. Agora, eles pararam de apenas suprir e passaram a alimentar as pessoas com a busca de sua própria identidade – avalia.
Pereira ainda acrescenta que todos devem assistir ao longa da Marvel, independentemente da etnia.
– Pantera Negra é um filme voltado para todos, principalmente para negros. Representatividade conta muito – afirma.