Filmado, sem intervalo, logo depois do segundo filme da trilogia-fenômeno escrita por E. L. James, Cinquenta Tons de Liberdade se propõe a impor um clima colorido em comparação ao sombrio Cinquenta Tons Mais Escuros (2017). Logo no início, quando Dakota Johnson surge linda na sequência do casamento de sua personagem Anastasia Steele com o bilionário Christian Grey (Jamie Dornan), em um vestido assinado pela estilista filipina Monique Lhuillier, a luminosidade da cena emoldurada por flores de seda (recurso da produção para manter o cenário intacto ao longo dos dias de filmagem) sugere que o clímax anunciado teria outros matizes na paleta.
Agora um casal com uma rotina mais tradicional, com exceções para escapadas esporádicas ao famoso quarto vermelho, Ana e Grey tentam inverter os papéis nesta sequência – pelo menos ela. Decidida a manter uma autonomia em relação ao parceiro, Anastasia volta ao trabalho na editora Seattle Independent Publishing (SIP) e bate de frente com os pedidos do marido. Usando um discurso de proteção, Grey joga todo um repertório de clichês que fazem suas tendências fetichistas ultrapassarem as paredes revestidas de tecidos e capitonês do cômodo que exibe seu arsenal de dominação. Não pode sair, deve trabalhar conforme a agenda dele e até o banho de sol é monitorado.
Para quem volta a atenção para o universo da personagem feminina, fica difícil de entender, pelo menos em parte do filme, onde se encaixa a tal liberdade bradada no título.
A autora da série best-seller explica: “Christian finalmente aprende a abrir mão e aceitar o que está acontecendo com ele. Acho que ele é o libertado”. As boas intenções duram poucos minutos, mais ou menos até metade da história, quando uma gravidez surpreende o casal, e a reação do novo papai não é exatamente madura e só muda mais para o final.
Somado aos conflitos do casal, a volta do ex-diretor da SIP, Jack Hyde (Eric Johnson), ganha destaque com sua obsessão por vingança. No início, imagina-se que o foco das ações seja Ana, mas o desenrolar da trama leva a artilharia à Grey. Como nos dois primeiros filmes, a sensação é de que tudo passa rápido demais, sem um desenrolar que prenda a atenção antes de o desfecho ser apresentado.
O ritmo veloz é amenizado por uma trilha sonora competente. Não chega a ter o poder da versão adaptada de Crazy in Love (hit de Beyoncé de 2003) que tanto marcou o primeiro filme e viralizou nas playlists, mas cria simpatia com vozes como a de Rita Ora (que vive novamente a irmã do protagonista) e de Liam Payne. A questão é que todos os filmes da trilogia já chegam vitoriosos em bilheteria, embalados pelo grande número de fãs dos livros. Para este público, ver Ana e Christian vividos pelos belos, malhados e de pele perfeita Dakota e Jamie pode empolgar e reavivar as lembranças. Mas para quem não tem esse encantamento prévio com a história é bem mais difícil render-se ao casal.