Uma grande rivalidade é diferente em um esporte individual, no qual o choque não é entre o entrosamento, o espírito e a força de duas equipes, mas um embate de duas vontades. É esse o coração de Borg vs McEnroe, drama que estreia nesta quinta-feira (9) em Porto Alegre e reconstitui o confronto entre o sueco Bjorn Borg (Sverrir Gunadson) e o americano John McEnroe (Shia LaBoeuf) na final de Wimbledon em 1980.
O conflito retratado no filme não é apenas entre dois tenistas no ápice de sua forma, mas entre duas concepções de jogo que servem, cada qual, como metáforas para duas visões de mundo. Bjorn Borg é, aos 24 anos, o maior esportista sueco de seu tempo. Já havia se consagrado quatro vezes campeão em Wimbledon, com um jogo cerebral e meticuloso que lhe valeu apelidos como “a máquina” ou “Iceborg”. McEnroe parece seu oposto: um americano passional que explode em quadra, xinga o público, provoca adversários e reclama das marcações dos juízes como um torcedor de organizada. Com 20 anos, chega ao torneio como o azarão contra o favorito Borg.
Além de mostrar o avanço gradativo e inevitável de um em direção ao outro durante as chaves, o filme também se estende ao passado de ambos para mostrar como suas infâncias moldaram sua relação com o jogo e sua vontade de vencer. O último ato é todo dedicado ao confronto na final. E aqui você pode escolher entre ir ao cinema ou olhar no Google para refrescar a memória e saber quem ganhou.
Borg vs McEnroe é o mais novo exemplar do que poderia ser considerado um subgênero à parte: o "filme de grandes eventos esportivos reais", cuja linhagem recente pode ser traçada até o ótimo Rush: No Limite da Emoção (2013), de Ron Howard, sobre o campeonato de Fórmula-1 disputado palmo a palmo por Niki Lauda e James Hunt em 1976. Outro exemplo é A Guerra dos Sexos, sobre um jogo-desafio lançado em 1973 pelo boquirroto machista Bobby Rigs à tenista Billie Jean King (ainda em cartaz na Capital). Em breve deve estrear I, Tonya, com Margot Robbie vivendo a patinadora Tonya Hardin, cujo marido pagou um aloprado para quebrar o joelho de sua maior rival, Nancy Kerrigan, em 1994.
Como o conflito, um elemento central de roteiro, já está dado de antemão pelo fato de serem filmes sobre personalidades fortes e obstinadas lutando pelo mesmo objetivo, um filme como esse pode sofisticar sua abordagem na reconstituição de época acurada e no aprofundamento psicológico de seus personagens.
É o que o diretor Janus Metz faz com Borg vs McEnroe. A fotografia amarelada, com tons de polaroides desbotadas, e a reconstituição de época e de figurino impressionam. A atenção epidérmica aos protagonistas é eficiente em revelar que suas personalidades são conflitantes apenas na aparência. O explosivo McEnroe apenas se permite externar o vulcão emocional que Borg passou a vida tentando silenciar. LaBoeuf até não se sai mal, mas o filme é mesmo de Gunadson e sua impressionante interpretação do intenso Borg.
Há, no entanto, uma irregularidade de ritmo provocada pelo fato de que, em 1980, Borg e McEnroe não tinham grande conexão pessoal fora da quadra, nem uma longa animosidade prévia que intensificasse o drama. Ambos querem a mesma coisa, mas não são particularmente rivais.