Uma mulher talentosa, no topo da carreira, enfrenta um coroa falastrão e chauvinista – alguém que, em condições normais de temperatura e bom senso, sequer deveria ser levado a sério como um oponente a sua altura. Não, não estamos falando da disputa entre Hillary Clinton e Donald Trump nas eleições americanas de 2016, mas de outro confronto histórico entre um homem e uma mulher.
Os fatos narrados no filme A Guerra dos Sexos aconteceram no início dos anos 1970, em plena "segunda onda" do movimento feminista – quando a luta, já garantido o direito de votar, passou a ser pelo fim da discriminação das mulheres em áreas tradicionalmente dominadas pelos homens, como o esporte.
Nesse ambiente efervescente e ao mesmo tempo ainda muito conservador, um grupo de tenistas, lideradas pela campeã Billie Jean King (Emma Stone) – a primeira atleta feminina a ganhar 100 mil dólares em um único ano –, decide comprar briga com a poderosa federação americana de tênis, exigindo pagamentos mais justos para as mulheres.
Com o apoio estratégico de Gladys Heldman (Sarah Silverman), fundadora da revista World Tennis, e correndo o sério risco de decretarem o fim de suas carreiras, essas corajosas tenistas organizaram um torneio próprio, o Virginia Slims Tour, que não apenas colocou em evidência o tênis feminino como ajudou a popularizar o esporte.
Em 1973, Billie Jean, aos 29 anos, estava no auge – tendo batido a brasileira Maria Esther Bueno, nas finais de Wimbledon, em 1966. Já Bobby Riggs (Steve Carell), aos 55, era um ex-tenista excêntrico, vivendo às custas da mulher milionária, Priscilla (Elizabeth Shue), e com um fraco por apostas. Como costuma-se dizer no jargão empresarial, Riggs viu "uma oportunidade" em Billie Jean e no recente clima de enfrentamento entre os sexos.
A vitória de um tenista aposentado sobre uma campeã em plena forma deixaria claro que elas não eram páreo para eles – nem nas quadras, nem nos escritórios e muito menos em casa. Vendo Bobby Riggs como um fanfarrão tentando se promover às suas custas, Billie Jean declinou o primeiro desafio para uma partida, mas acabou voltando atrás depois que outra grande tenista da época, a australiana Margaret Court (Jessica McNamee), caiu na armadilha – e foi derrotada.
Billie Jean sabia que o que estava em jogo, naquele momento, não era apenas um troféu, mas a causa que ela representava – o tênis feminino – e, em última instância, a própria luta feminista em uma época em que a simples ideia de que homens e mulheres deveriam ganhar o mesmo salário pelo mesmo trabalho soava revolucionária.
O confronto, batizado marqueteiramente de Battle of Sexes (Batalha dos Sexos), foi realizado em 20 de setembro de 1973, no ginásio Reliant Astrodome, em Houston, Texas. Estima-se que cerca de 90 milhões de pessoas, em todo o mundo, tenham assistido à partida pela TV. (E se você não sabe quem ganhou, não vou estragar a surpresa.)
Dirigido pelo casal Jonathan Dayton e Valerie Faris, de Pequena Miss Sunshine (2006), o filme é a prova de que muitas coisas bacanas podem acontecer quando homens e mulheres trabalham juntos. A Guerra dos Sexos é menos inventivo do que o primeiro longa do casal, que faturou dois Oscar, mas dá conta do recado, narrando uma grande história de forma delicada e eficiente. Confira aqui as salas onde o filme é exibido em Porto Alegre.
E, mais importante, no momento certo: quando o filme foi rodado, em 2015, ninguém seria capaz de imaginar que, na época da estreia, um sujeito muito mais misógino e falastrão do que Bobby Riggs estaria cantando de galo, a sério, na Casa Branca.